Criação de bovinos polui mais do que métodos mais inteligentes, diz ONU
Genebra, Suíça (PANA) - A criação do gado bovino gera mais gases com efeito de estufa, medidos com equivalência ao CO2 (díoxido de carbono), do que transportes e métodos de produção mais inteligentes, segundo um novo relatório das Nações Unidas publicado quarta-feira última.
“A criação de gado é um dos principais fatores que contribuem para problemas ambientais mais graves hoje”, alertou Henning Steinfeld, alto funcionário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO).
“Medidas urgentes são necessárias a fim de remediarem a situação”, preconizou Steinfeld, frisando que a criação do gado é igualmente uma fonte maior de degradação das terras e da água.
“Os custos ambientais, por unidade de produção animal, devem ser reduzidos para metade, pelo menos para se evitarem que danos se agravem mais do que agora”, advertiu o funcionário onusino, citafo neste relatório intitulado “Longos Problemas de Criação de Gado: Soluções e Opções Ambientais”.
Se se tiver em conta emissões ligadas ao uso das terras e à mudança na atribuição das terras, o setor da pecuária representa nove por cento do CO2 provenientes das atividades humanas, mas produz uma parte importante de gás com efeito de estufa ainda mais nocivo, lê-se no documento.
Ele gera 65 por cento do óxido nitroso ligado às atividades humanas, cujo potencial de aquecimento planetário é 296 vezes superior ao do CO2, proveniente maioritariamente do estrume.
Também está na origem de 37 por cento do conjunto do metano de origem humana, ou seja, 23 vezes mais aquecedor que o CO2 produzido em grande parte pelo sistema digestivo dos ruminantes, e de 64 por cento do amoníaco, que contribui de maneira significativa para chuvas ácidas.
Com o crescimento da prosperidade, as pessoas consomem anualmente cada vez mais carne e produtos lácteos, lê-se no relatório.
A produção mundial de carne deveria duplicar-se mais, passando de 229.000.000 toneladas, entre 1999 e 2001, para 465.000.000 toneladas em 2050, enquanto a produção de leite deveria passar de 580.000.000 para 1.043.000.000 toneladas.
O setor mundial da pecuária cresce mais rápido do que qualquer outro sub-setor agrícola, alimentando cerca de 1.300.000.000 pessoas e contribui até 40 por cento para a produção agrícola mundial.
Para numerosos agricultores pobres dos países em desenvolvimento, o gado é igualmente uma fonte de energia renovável para a tração e uma fonte essencial de estrume orgânico para as suas culturas.
Paralelamente, manadas provocam uma degradação das terras em grande escala, e cerca de 20 por cento dos pastos são considerados degradados pelo sobrepasto, pela compactação e pela erosão, preveniu.
A seu ve, estes dados ainda estão elevados nas zonas áridas onde políticas inapropriadas e uma gestão inadequada do gado contribuem para o avanço da desertificação.
A pecuária é uma dos setores mais prejudiciais aos recursos hídricos, cada vez mais raros, porque contribui nomeadamente para a poluição da água através do lixo animal, antibióticos e hormónios, produtos provenientes do curtimento de peles, estrume e pesticidas utilizados na pulverização das culturas destinadas à alimentação animal.
Para além da melhoria da alimentação dos animais, os remédios propostos para resolverem estes múltiplos problemas compreendem métodos de conservação dos solos, a exclusão controlada do gado nas zonas sensíveis, a elaboração de iniciativas de fábricas de biogás para a reciclagem do estrume.
Também faz parte destes remédios a melhoria da eficácia dos sistemas de irrigação e da introdução duma tarifa da água com custos completos e de taxas para o desencorajamento da concentração do gado em grande escala e próximo das cidades.
-0- PANA RA/BAI/JSG/SOC/DD 17out2024