PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
Conflitos armados colocam 40% das crianças africanas fora do sistema escolar
Kinshasa, RD Congo (PANA) – O impacto negativo dos conflitos armados no setor da educação continua a ser negligenciado sobretudo em África, onde 40 porcento das crianças em idade escolar estão fora do sistema de ensino, soube-se quinta-feira em Kinshasa.
Segundo o relatório mundial de 2011 sobre a iniciativa da Educação para Todos (ETP), esta negligência constitui uma “crise escondida” que mina o crescimento económico e trava o progresso das nações.
Este relatório foi apresentado durante a Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento”, que decorre desde terça-feira na capital congolesa, Kinshasa, por iniciativa da Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA).
O documento destaca que 46 milhões das crianças africanas “nunca puseram os pés numa sala de aulas” e que dos 35 países que sofreram conflitos armados no mundo, entre 1999 e 2008, pelos menos 15 se situam na África Subsariana.
Embora a intensidade, a escala e a dimensão geográfica da violência varie, os conflitos armados nestes países têm a particularidade comum de serem “muito prolongados”, indica o relatório apresentado por Sherri Le Mottee, consultora sul-africana do Polo de Qualidade Interpaíses (PQIP) da ADEA sobre a Educação para a Paz.
Outra particularidade comum, prossegue documento, é o facto de as crianças e as escolas estarem sempre “na linha da frente” destes conflitos armados, que têm as salas de aulas, os professores e os alunos entre os seus “alvos legítimos".
A isto acresce os traumas físicos, as perturbações mentais e a estigmatização sofrida pelas crianças como “fonte de profunda desvantagem educacional, má aprendizagem e mau desempenho escolar”.
A título de exemplo, o relatório constata que a maior parte das infraestruturas educativas da Serra Leoa foram destruídas durante a guerra civil, e 60 porcento das escolas primárias do país ainda requerem reabilitação, enquanto na capital somali, Mogadíscio, 60 escolas estão encerradas desde 2009 e pelo menos 10 foram ocupadas pelos soldados.
A Somália, juntamente com a República Centro-Africana (RCA), o Tchad e a RD Congo são apontados como fazendo parte dos 24 países do mundo onde existem crianças soldados e onde é muito comum o recrutamento militar de petizes a partir das escolas.
Em 2007 por exemplo, prossegue o documento, a Missão das Nações Unidas na RD Congo testemunhou a presença de centenas de crianças na frente de combate, na província do Kivu Norte, muitas das quais “recrutadas à força a partir das salas de aulas, provocando o fecho das escolas nalguns casos”.
A violação e outros atos de violência sexual foram amplamente utilizados como “instrumentos de guerra em países como a Libéria e a Serra Leoa bem como durante o genocídio rwandês”, indica o relatório.
Mais recentemente, conclui, foram identificadas “sérias preocupações no Tchad e na RD Congo onde a insegurança e o medo ligado à violência sexual desencorajam as meninas em particular de ir à escola”.
A Mesa Redonda de Kinshasa foi organizada pela ADEA em colaboração com os Ministérios da Educação do Quénia e da RD Congo e do Bureau Regional de Educação em África (BREDA) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para analisar o papel da Educação na prevenção de conflitos e da violência e na consolidação da paz.
Encerrado esta quinta-feira, o encontro reuniu representantes dos Ministérios da Educação de sete países africanos em “situação de conflito ou fragilidade”, designadamente Burkina Faso, Côte d’Ivoire, Quénia, Libéria, RD Congo, Somália e Zimbabwe.
Participaram igualmente especialistas de programas curriculares escolares, representantes da sociedade civil, de universidades, institutos regionais e organismos internacionais de desenvolvimento que apoiam o projeto da Educação para a Paz em África.
O encontro foi concebido para a troca de informações sobre políticas e práticas educativas e estratégias a favor da paz “como condição primeira para a coesão social, a estabilidade política e o desenvolvimento económico em África.
Segundo os seus organizadores, o objetivo foi permitir, entre outros, uma melhor compreensão dos desafios ligados aos conflitos e à fragilidade dos países africanos para favorecer a tomada de decisões políticas e legislativas para implementar os ideais da educação para a paz.
Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa
-0- PANA IZ 28julho2011
Segundo o relatório mundial de 2011 sobre a iniciativa da Educação para Todos (ETP), esta negligência constitui uma “crise escondida” que mina o crescimento económico e trava o progresso das nações.
Este relatório foi apresentado durante a Mesa Redonda sobre “Educação, Paz e Desenvolvimento”, que decorre desde terça-feira na capital congolesa, Kinshasa, por iniciativa da Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA).
O documento destaca que 46 milhões das crianças africanas “nunca puseram os pés numa sala de aulas” e que dos 35 países que sofreram conflitos armados no mundo, entre 1999 e 2008, pelos menos 15 se situam na África Subsariana.
Embora a intensidade, a escala e a dimensão geográfica da violência varie, os conflitos armados nestes países têm a particularidade comum de serem “muito prolongados”, indica o relatório apresentado por Sherri Le Mottee, consultora sul-africana do Polo de Qualidade Interpaíses (PQIP) da ADEA sobre a Educação para a Paz.
Outra particularidade comum, prossegue documento, é o facto de as crianças e as escolas estarem sempre “na linha da frente” destes conflitos armados, que têm as salas de aulas, os professores e os alunos entre os seus “alvos legítimos".
A isto acresce os traumas físicos, as perturbações mentais e a estigmatização sofrida pelas crianças como “fonte de profunda desvantagem educacional, má aprendizagem e mau desempenho escolar”.
A título de exemplo, o relatório constata que a maior parte das infraestruturas educativas da Serra Leoa foram destruídas durante a guerra civil, e 60 porcento das escolas primárias do país ainda requerem reabilitação, enquanto na capital somali, Mogadíscio, 60 escolas estão encerradas desde 2009 e pelo menos 10 foram ocupadas pelos soldados.
A Somália, juntamente com a República Centro-Africana (RCA), o Tchad e a RD Congo são apontados como fazendo parte dos 24 países do mundo onde existem crianças soldados e onde é muito comum o recrutamento militar de petizes a partir das escolas.
Em 2007 por exemplo, prossegue o documento, a Missão das Nações Unidas na RD Congo testemunhou a presença de centenas de crianças na frente de combate, na província do Kivu Norte, muitas das quais “recrutadas à força a partir das salas de aulas, provocando o fecho das escolas nalguns casos”.
A violação e outros atos de violência sexual foram amplamente utilizados como “instrumentos de guerra em países como a Libéria e a Serra Leoa bem como durante o genocídio rwandês”, indica o relatório.
Mais recentemente, conclui, foram identificadas “sérias preocupações no Tchad e na RD Congo onde a insegurança e o medo ligado à violência sexual desencorajam as meninas em particular de ir à escola”.
A Mesa Redonda de Kinshasa foi organizada pela ADEA em colaboração com os Ministérios da Educação do Quénia e da RD Congo e do Bureau Regional de Educação em África (BREDA) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para analisar o papel da Educação na prevenção de conflitos e da violência e na consolidação da paz.
Encerrado esta quinta-feira, o encontro reuniu representantes dos Ministérios da Educação de sete países africanos em “situação de conflito ou fragilidade”, designadamente Burkina Faso, Côte d’Ivoire, Quénia, Libéria, RD Congo, Somália e Zimbabwe.
Participaram igualmente especialistas de programas curriculares escolares, representantes da sociedade civil, de universidades, institutos regionais e organismos internacionais de desenvolvimento que apoiam o projeto da Educação para a Paz em África.
O encontro foi concebido para a troca de informações sobre políticas e práticas educativas e estratégias a favor da paz “como condição primeira para a coesão social, a estabilidade política e o desenvolvimento económico em África.
Segundo os seus organizadores, o objetivo foi permitir, entre outros, uma melhor compreensão dos desafios ligados aos conflitos e à fragilidade dos países africanos para favorecer a tomada de decisões políticas e legislativas para implementar os ideais da educação para a paz.
Por Fred Cawanda,
Enviado especial da PANA em Kinshasa
-0- PANA IZ 28julho2011