Agência Panafricana de Notícias

Central sindical nega boicote à greve geral em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - A União Nacional dos Trabalhadores de Cabo Verde - Central Sindical (UNTC-CS) negou quarta-feira as acusações feitas na véspera pela rival Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres (CCSL) de ter sido subornada e corrompida pelo Governo para boicotar a greve geral que devia ter lugar nos dias 29 e 30 deste mês.

Em conferência de imprensa destinada a reagir às acusações, o secretário-geral da UNTC-CS, Júlio Ascensão Silva, acusou o presidente da CCSL, José Manuel Vaz, de ter usado este expediente como "uma cortina de fumo" para justificar a incapacidade da sua central sindical em levar a cabo uma greve geral e a manifestação convocada para 1 de maio, Dia Internacional do Trabalhador.

Júlio Ascensão Silva salientou que não é a primeira vez que a CCSL utiliza este método para "camuflar" fracassos na organização de protestos.

"O presidente da CCSL é que deve assumir as responsabilidades, pois a UNTC-CS nada tem a ver com a greve", afirmou.

Ao rebater a acusação que foi feita à UNTC-CS de estar a negociar com o Governo, ao longo dos últimos meses e de forma secreta, a doação de edifícios do Estado para instalar os seus escritórios, Júlio Ascensão Silva indicou que essas negociações ficaram concluídas desde de 2011.

O líder sindical recordou que se tratou de um processo que se arrastou desde 1999, quando o Governo de então, liderado por Carlos Veiga, do Movimento para a Democracia (MpD, atualmente na oposição), recebeu um pedido nesse sentido, já que a rival CCSL desde a sua fundação nos inícios dos anos 90 tem os serviços a funcionar em edifícios públicos.

Terça-feira, ao anunciar o adiamento da greve e da manifestação, o presidente da CCSL, José Manuel Vaz, disse que ao ceder, nesta altura, instalações públicas à principal central sindical, o Governo "conseguiu dividir" os trabalhadores, o que o levou a concluir "não estarem criadas as condições democráticas" para o direito à greve em Cabo Verde.

O líder da UNTC-CS disse ter estranhado por a CCSL só agora ter levantado uma questão cuja transparência pode ser comprovada com a publicação no Boletim Oficial do acordo feito com o Governo em fevereiro de 2011.

Por isso, ele considera ser "totalmente falsa” esta acusação que, segundo ele, visa criar uma “cortina de fumo” e enganar a opinião pública e os trabalhadores".

Júlio Ascensão Silva lamenta, entretanto, que tal situação venha complicar "ainda mais" as "más relações" existentes entre as duas únicas centrais sindicais cabo-verdianas, que estão "cortadas" há um ano.

A paralisação, marcada em dezembro de 2013 para fins de abril, não era apoiada pela UNTC, tendo o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, insistido na ideia de que, ao prosseguirem as negociações no quadro da Comissão Tripartida no Conselho de Concertação Social, não havia razões para a greve geral.

As duas centrais sindicais, porém, continuam a exigir ao Governo a suspensão do Código Laboral, aumentos salariais de cinco porcento, criação do subsídio de desemprego, pagamento de subsídios diversos, aprovação dos Estatutos de Carreira, Grelha Salarial, devolução de impostos e a integração no quadro dos funcionários públicos com mais de cinco anos de serviço.

-0- PANA CS/IZ 01maio2014