Calma precária volta à África do Sul após violência xenófoba
Cidade do Cabo, África do Sul (PANA) - Uma calma precária reinava esta quinta-feira em alguns bairros de Joanesburgo e de Pretória, na África do Sul, após vários dias de violência xenófoba e motins que suscitaram uma onda de indignação no país e no continente.
A Polícia e os líderes políticos analisam estes atos graves de violência dirigidos contra cidadãos estrangeiros em que cinco pessoas foram mortas e vários armazéns e estabelecimentos comerciais destruídos.
Esta tragédia colocou mais uma vez a África do Sul numa situação embaraçosa e deitou uma escuridão na edição africana do Fórum Económico Mundial (WEF), organizado na Cidade do Cabo.
O secretário-geral do Congresso Nacional Africano (ANC, no poder), Ace Magashule, rejeitou o caráter xenófobo destes atos de violência, imputando-os sobretudo a criminosos.
"Os nossos Presidentes, os Presidentes africanos estão a discutir, eles analisaram corretamente a situação. Eles sabem o que está acontecer. Não se trata de atos xenófobos, mas de atos criminosos. Mesmo cidadãos sul-africanos se fizeram abater”, declarou Magashule.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que participa no WEF, observou um minuto de silêncio em memória daqueles que foram mortos, na sequência dos ataques contra cidadãos estrangeiros.
"É extremamente deplorável que nós nos encontremos numa altura em que nós recebemos uma série de notícias horríveis”, disse.
Por seu turno, O "Obama Africa Leaders in Southern Africa", um programa de desenvolvimento da liderança africana, diz-se chocado com o facto de assistir uma vez mais a estes ataques "contra os nossos irmãos Africanos”.
Para este progama, tais incidentes, que mancharam a reputação da África do Sul, em termos de paz e de reconciliação "são criminosos e apresentam todas as caraterísticas da xenofobia".
"A afrofobia manifestou-se recentemente no nosso país através dos ataques da localidade de Gauteng, contra os negros e os que têm a pele escura, muitos dos quais são oriundos da Ásia ou de outros países africanos. Nada justifica estes atos vis e criminosos e os responsáveis devem ser presos pelas forças da ordem”, escreveu Obama Africa Leaders in Southern Africa, num comunicado.
Julius Malema, líder do partido dos Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), acusou uma vez mais os Sul-africanos brancos de serem responsáveis por este massacre.
"A fúria raiva está virada para as más pessoas. Como todos nós, as nossas irmãs e os nossos irmãos africanos vendem o seu labor a baixo preço para sobreviver. Os possuidores da nossa riqueza são os brancos que monopolizam o capital e eles recusam-se a partilhá-la connosco e o ANC no poder protege-os”, declarou num tweet o responsável do EFF.
O analista sul-africano Simon Allison deplorou, do seu lado, a forma como o "milagre de Mandela" evaporou no continente.
"A notícia dos ataques contra os estrangeiros, na África do Sul, vai propagar-se nas rotas dos migrantes, antes mesmo de aparecer nos sites de informação. Cada vez que um Zimbabweano for agredido no centro de Joanesburgo ou que uma loja pertencente a um Somalí for pilhada em Tembisa, o choque ecoa além-fronteiras, através dos grupos WhatsApp, das redes sociais e dos telefonemas à longa distância, e deixa marcas que nunca poderão desaparecer.
"Até há pouco tempo, a África do Sul era querida pelo resto do continente. Hoje nós somos injuriados, nós somos os únicos a censurar”, alertou.
–0– PANA CU/MA/NFB/JSG/FK/IZ 05set2019