Cabo Verde reúne condições para ser primeiro país africano sem pobreza extrema, diz a ONU
Praia, Cabo Verde (PANA) - A coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ana Graça, afirmou hoje que o arquipélago tem condições para ser o primeiro país africano a eliminar a pobreza extrema que ainda afeta 115.000 pessoas no país, apurou a PANA de fonte segura.
Em declarações à imprensa, a responsável onusina sublinhou o crescimento económico inclusivo, para gerar emprego e rendimento no país, com a aposta no capital humano, será uma das prioridades das agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que operam no arquipélago no próximo programa de cooperação com Cabo Verde.
"Falamos muito em termos da necessidade de termos um programa estruturante à volta da questão do desenvolvimento do capital humano e do capital social, para ajudar a contribuir para este objetivo da erradicação da extrema pobreza", acrescentou Graça, quando fazia o balanço deste trabalho de preparação decorrido nos últimos dois dias, na capital cabo-verdiana.
Disse acreditar que Cabo Verde tem condições para alcançar este objetivo.
O Governo cabo-verdiano assumiu, no final de 2021, o objetivo de erradicar a pobreza extrema em cinco anos, tendo lançado, para o efeito, o programa MAIS (Mobilização pela Aceleração da Inclusão Social), envolvendo Organizações Não Governamentais (ONG) e outras entidades da sociedade civil.
Dezenas de representantes de várias agências das Nações Unidas realizaram, nos últimos dois dias, um retiro para lançarem o processo de planeamento do próximo quadro de cooperação com Cabo Verde, que vai desenvolver-se de 2023 a 2027, e que estará concluído em seis meses.
Segundo Ana Graça, este encontro permitiu confirmar as prioridades já identificadas, como o crescimento económico inclusivo, assente na proteção do ambiente e nas economias verde e azul, para garantir a geração de emprego nestas áreas, "aproveitando o talento da juventude".
As agências das Nações Unidas, que já trabalham em Cabo Verde, apontam como prioridades para o próximo programa "reforçar o apoio à boa governação e à modernização e digitalização da Administração Pública cabo-verdiana."
Para Ana Graça, são eixos em que as Nações Unidas podem "trazer valor acrescido" a Cabo Verde.
Além disso, o objetivo do próximo programa será trabalhar em projetos "estruturantes" para o arquipélago, para ter "mais impacto e serem mais transformadores do desenvolvimento sustentável" em Cabo Verde, e não tanto em pequenos projetos.
O Banco Mundial, que participou nestas reuniões das agências das Nações Unidas com presença em Cabo Verde, estimou em 2020 que a pobreza extrema global deverá subir pela primeira vez em 20 anos devido aos impactos da pandemia de covid-19, levando até quase 10 por cento da população mundial a viverem com menos de 1,90 dólares por dia.
Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística, setor que garante 25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago, desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8 por dento do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido entre 6,5 e 7,5 por cento em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê seis por dento de crescimento em 2022.
O Governo de Cabo Verde e o Sistema das Nações Unidas assinaram em outubro de 2017 o Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento das Nações Unidas em Cabo Verde (UNDAF), orçado em cerca de 92 milhões de dólares (81,3 milhões de euros), cuja execução termina este ano (2018 -- 2022), iniciando-se agora o processo para ultimar o próximo quadro, ainda sem verbas definidas.
-0- PANA CS/DD 26jan2022