Cabo Verde prevê recessão económica de 11 por cento devido àcovid-19
Praia, Cabo Verde (PANA) - O vice-primeiro ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, disse sexta-feira, na cidade da Praia, que os efeitos da covid-19 vão provocar, em 2020, uma recessão económica no país na ordem dos 11 por cento.
Perante tal cenário, Olavo Correia apontou a diversificação da economia como um imperativo para se evitar o colapso económico e o desemprego em massa no arquipélago.
O também ministro das Finanças manifestou estas preocupações na abertura da conferência online “Diálogo de alto nível”, sobre o lema “Os desafios e as oportunidades nos financiamentos dos Estados: Novas soluções? Setor privado?”.
Sublinhou nessa ocasião que a pandemia da covid-19 está a ter reflexos no agravamento na dívida pública e externa do país.
Admitiu que Cabo Verde, enquanto “uma pequena economia insular”, tem um “grau elevado” de abertura em relação ao mundo, “fraca dignificação” económica.
O país apresenta uma “elevada vulnerabilidade” a fatores exógenos, razão pela qual o arquipélago “seguramente afigura-se na lista dos países mais impactados” pela pandemia.
Olavo Correia lamentou que o país tivesse estado a registar “uma forte quebra” no crescimento do turismo e de toda a atividade económica.
No entanto, ele disse acreditar que, em 2021, haverá condições para a retoma da economia, mas advertiu que “ainda esta perspetiva é muito incerta” em face da evolução epidemiológica em Cabo Verde e, particularmente, no mundo.
Conforme Olavo Correia, esta crise veio ”mudar a trajetória de consolidação orçamental” de Cabo Verde, com consequência fiscal.
Apontou que o défice público que estava em 1.7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), um valor sólido extremamente baixo”, subiu para valores à volta dos 11 por cento.
Para fazer face a novos desafios e preparar a economia para o pós-covid-19, o governante considera "determinante" trabalhar-se na perspetiva de encontrar "soluções novas e inovadoras.”
Salientou que, em política de longo prazo, esta crise pandémica ensinou o Governo de Cabo Verde a estar “plasmado no plano estratégico sustentável 2017-2021, tornando a economia mais resiliente e diversificada.”
Olavo Correia assinalou que recursos essenciais do Orçamento do Estado estão a ser direcionados para os setores da Saúde, da Inclusão Social e da Educação, mediante o apoio de todos os parceiros, para que o país possa fazer um “bom combate epidemiológico", visando evitar um colapso da economia e conter o perigo do desemprego em massa em Cabo Verde.
Por tudo isto, admitiu que esta crise pandémica agravou a subida da dívida.
Afirmou que África e Cabo Verde estão a enfrentar “o muro da dívida” e que se torna necessário colocar uma solução para o problema das dívidas externa, no quadro de uma estratégia de financiamento mais global, reforço do setor privado, e na promoção do desenvolvimento do negócio.
Por sua vez, o representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Opia Kumah, que também participou na conferência online “Diálogo de alto nível”, reconheceu que a covid-19 destruiu muitos do ganhos que Cabo Verde tinha alcançado, o que, a seu ver, obriga o Governo a redesenhar toda a sua estratégia do desenvolvimento.
Opia Kumah alertou que a pandemia não vai desaparecer como por milagre, alertando para a necessidade de se transformar as dificuldades impostas pela covid-10 em oportunidades para se ultrapassar as vulnerabilidades.
Do seu lado, o chefe da cooperação da União Europeia, Pedro Campos Lopis, destacou a grande importância do tema desta conferencia “Diálogo de alto nível” na crise atual para um país como Cabo Verde.
Enalteceu o “desempenho admirável” no campo social e económico nas últimas décadas, difícil de se encontrar em qualquer outro país.
Pedro Campos Lopis admitiu que o desempenho económico e social do arquipélago tem estado a conhecer “um certo desaceleramento” por uma série de razões, designadamente a crise financeira global de 2008 e pandémica, com reflexos na restrição do acesso ao crédito.
Destacou avanços e efeitos dramáticos da covid-19 na economia, que têm provocado um “choque brutal” em Cabo Verde.
Mas disse que a União Europeia está confiante na recuperação económica do país, desaconselhando no entanto ao Governo cabo-verdiano a evitar o aumento dos impostos.
Promovida pelo Programa para a Consolidação da Governação Económica e Sistemas de Gestão das Finanças Públicas nos Paises Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste (PALOP-TL) e pela Pro PALOP-TL ISC (FASE II), esta conferência tem como objetivo a melhoria da governação económica nos PALOP-TL, que resulta da parceria estratégica entre a UE e o PNUD.
O referido programa, que conta com o financiamento da UE avaliado em 7,7 milhões de euros, administrados diretamente pelo PNUD, enquadra-se nos esforços #TeamEurope da UE em resposta à covid-19, e no plano de resposta do PNUD a médio prazo ao impacto da pandemia nos países beneficiados.
-0- PANA CS/DD 04dez2020