Cabo Verde pede "posicionamento firme” da UA e CEDEAO sobre Mali
Praia, Cabo Verde (PANA) – O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, defendeu, terça-feira, na cidade da Praia, um posicionamento “claro e firme” da parte da União Africana (UA) e da Comunidade Económica de Desenvolvimento do Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), no caso da crise política no Mali, na sequência da detenção por militares do Presidente da transição naquele país, Bah Ndaw, e do seu primeiro-ministro, Moctar Ouané, apurou a PANA de fonte segura.
Carlos Fonseca, que falava a jornalistas, à margem dum encontro mantido com o presidente do Governo Regional do Príncipe, Filipe Nascimento, salientou que não pode haver situações como a que se vive no Mali com um processo de transição, com compromissos, com acordos e depois haver detenção por militares dessas entidades, “em clara violação” dos acordos estabelecidos “em desrespeito” daquilo que foi assumido pelos responsáveis.
“As partes nesse país têm que se entender, têm de dialogar e a União Africana e a CEDEAO têm de ter uma posição de muita clareza e firmeza, e uma posição articulada com outros parceiros internacionais que é a única forma de se cumprir as exigências, como militares regressarem às casernas para haver diálogo, consenso político, para que a transição se realize e os Malianos tenham direito à paz, tranquilidade e ao progresso”, realçou.
Em comunicado emitido terça-feira, os presidentes das Comissões da União Africana e da CEDEAO declararam uma "profunda preocupação", com a evolução da situação política no Mali, na sequência da detenção do Presidente Bah Ndaw e do primeiro-ministro, Moctar Ouané pelo Vice-Presidente, Assimi Goita.
Os dois órgãos condenam veementemente este ato extremamente grave que não pode, de forma alguma, ser tolerado à luz das disposições relevantes da CEDEAO e da União Africana, razão pela qual exortaram os militares a regressarem aos quartéis, e libertarem “de imediata” as duas principais figuras do Estado maliano.
O Vice-Presidente de Transição no Mali, o coronel Assimi Goita, anunciou, terça-feira, ter demitido o seu superior, o Presidente Bah Ndaw, bem como o primeiro-ministro, Moctar Ouané, mas que "o processo de transição continua o seu curso, e haverá eleições em 2022."
Numa declaração lida na televisão nacional, Goita, que liderou o golpe militar de agosto de 2020, contra o o então chefe do Estado, Ibrahim Boubacar Keita, tentou dar uma ideia de normalidade, convidando o povo maliano a "continuar livremente as suas ocupações."
O coronel insistiu no "compromisso infalível" das Forças Armadas do Mali em defender a segurança do país, mas não indicou pormenores sobre o paradeiro do Presidente e primeiro-ministro, detidos desde segunda-feira última.
Após várias horas de expetativa desde a detenção de Ndaw e Ouané, o comunicado do vice-presidente Goita explica que as razões desta ação resultam de uma "crise de muitos meses a nível nacional", em referência a greves e a várias manifestações convocadas no país por atores sociais e políticos.
A detenção de Ndaw e Ouané ocorreu horas após o anúncio da composição de um novo Governo formado pelo primeiro-ministro, o que, segundo várias fontes, causou desconforto entre líderes do golpe militar, nomeadamente devido à exclusão de dois comandantes militares.
O coronel Goita disse ter sido, "neste contexto, obrigado a agir, pondo "fora das suas prerrogativas" o Presidente, o primeiro-ministro e todos aqueles envolvidos nesta bronca.
-0- PANA CS/DD 25maio2021