Cabo Verde justifica venda de terreno para Embaixada americana
Praia, Cabo Verde (PANA) – O Governo cabo-verdiano justificou como uma “decisão estratégica” a venda recentemente aos Estados Unidos de um terreno onde funciona atualmente uma escola secundária, na capital do arquipélago, Praia, para a construção de uma nova Embaixada americana.
Segundo o ministro cabo-verdianao dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares, trata-se de uma decisão que deriva da “confiança” e “excelência” das relações históricas e de cooperação entre os dois países.
O chefe da diplomacia cabo-verdiana reagia a críticas feitas pela oposição e por alguns setores sociais a esta decisão do Governo de deslocar o Liceu da Várzea para a zona do Taiti e ceder o terreno onde se encontra edificado o referido estabelecimento de ensino secundário.
Em conferência de imprensa, Luís Filipe Tavares considerou “infelizes” e “populistas” as declarações surgidas na comunicação social e nas redes sociais e que “em nada abonam a política externa de Cabo Verde”.
Este processo "não é uma questão mercantil", mas sim uma “parceria estratégica” que é “muito importante” para Cabo Verde, advertiu.
A decisão americana de construir de raiz uma embaixada no arquipélago, lembrou, acontece pela primeira vez, ou 200 anos depois do estabelecimento das relações entre os dois países, e 44 anos depois do estabelecimento das relações diplomáticas.
Para o governante, isto significa uma “prova de confiança inequívoca” dos Estados Unidos, país que, atualmente, alberga mais de 500 mil migrantes cabo-verdianos.
Acrescentou que este projeto que está orçado em mais de 200 milhões de dólares americanos terá um “impacto muito importante diretamente na economia cabo-verdiana e vai criar e gerar uma zona de referência na cidade da Praia”.
Questionado sobre o facto de a escolha do espaço para a construção da referida embaixada poder colocar questões de segurança, uma vez que o terreno fica ao lado do Palácio do Governo, Luís Filipe Tavares afiançou que todas as questões de segurança foram analisadas e levadas em conta.
Assegurou que “Cabo Verde fará tudo aquilo que prometeu e acordou com os Estados Undidos”, que, segundo ele, analisaram várias situações e localizações, antes de fazerem a proposta à qual "o Governo não tem nada a opor".
"Temos plena confiança nas nossas relações com os Estados Unidos e nesta matéria não há motivos de preocupação e esta parceria deve ser motivo de orgulho de todos os Cabo-verdianos”, insistiu.
Para Luís Tavares, as informações que estão a circular de que a nova Embaixada dos Estados Unidos poderá albergar uma base militar “não correspondem minimamente à verdade”.
Por sua vez, a representação diplomática dos Estados Unidos, na cidade da Praia, garantiu, quinta-feira, em comunicado, que a nova embaixada permitirá melhorar "os serviços consulares e reforçará a relação duradoura e positiva entre os nossos países".
"Os governos de Cabo Verde e dos Estados Unidos chegaram a um princípio de acordo quanto à localização e construção de um novo edifício geral que albergará a futura instalação da Embaixada dos EUA, na cidade da Praia", lê-se no comunicado.
"Este é o primeiro passo de um longo processo, e os dois governos continuarão a trabalhar juntos para vê-lo concluído. O Governo dos Estados Unidos estabeleceu diretivas e práticas de contratação relativamente ao processo de construção da nova embaixada que irá beneficiar a economia local e os cidadãos de Cabo Verde", concluiu.
O anuncio da autorização de venda dos terrenos onde está construído o liceu Cónego Jacinto, na Várzea, causou polémica com os dois partidos políticos da oposição com assento parlamentar, PAICV e UCID, a posicionarem-se contra a decisão.
A presidente do PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde), Janira Hopffer Almada, utilizou a sua conta do Facebook para alertar o país sobre a eventualidade de se estar perante "a delapidação de bens públicos".
Também a UCID (União Cabo-verdiana Independente e Democrática), partido com dois assentos parlamentares, condenou a decisão do Governo de vender o terreno onde está o Liceu Cónego Jacinto, na Praia.
Para o líder da UCID, António Monteiro, a justificação apresentada pelo Executivo de que a atual instalação deste estabelecimento de ensino não se adequa à nova dinâmica do ensino, em Cabo Verde, e às necessidades futuras, devido ao crescimento populacional na área, "não convence".
“Resolveram vender uma escola e trouxeram subterfúgios em termos de crescimento populacional para justificar esta venda. A UCID entende que não é este o teor essencial da venda, mas sim vender por vender, deixando aos cidadãos cabo-verdianos a ideia de que a educação não tem nenhum valor neste país”, afirmou.
O anúncio da autorização da venda dos terrenos onde está construído o Liceu Cónego Jacinto está publicado no Boletim Oficial do dia 6 de maio, e diz que o terreno de 12 mil metros quadrados será vendido por 5,8 milhões de dólares americanos.
-0- PANA CS/IZ 10maio2019