Cabo Verde já faz mais de metade da produção agrícola com rega gota a gota, diz Governo
Praia, Cabo Verde (PANA) - A penetração da rega gota a gota, para mitigar a seca prolongada que Cabo Verde tem conhecido, nos últimos anos, ultrapassa os 50 por cento este ano, apurou a PANA de fonte oficial, na capital cabo-verdiana,
Ao intervir no debate parlamentar, sobre agricultura e ambiente, o ministro que tutela estes dois setores, Gilberto Silva, disse que o nível de utilização desse sistema de rega que exige muito menos agua do que através da rega tradicional garante o objetivo de alavancar a agricultura além da subsistência no arquipélago.
"A taxa de penetração da rega gota a gota aumentou de 27 por cento, em 2015, para 41 por cento, em 2020. E com os incentivos em curso, chegarão este ano aos 52 por cento", garantiu o ministro da Agricultura e Ambiente.
Gilberto Silva revelou ainda que aos 15 parques solares associados à bombagem e distribuição de água instalados, em 2014 e 2015, foram adicionadas mais 99 unidades.
Cabo Verde entra no quarto ano consecutivo de seca, tendo avançado, nos últimos anos, com o desenvolvimento e aplicação de técnicas e aproveitamentos de água alternativos, como, recordou Gilberto Silva, os ensaios em curso com "tecnologias seguras" para reutilização em algumas atividades de águas residuais tratadas, nas centrais de dessalinização ou no tratamento águas salobras.
"Graças aos investimentos feitos, nos últimos anos, o volume de água mobilizado aumentou de 44,16 milhões de metros cúbicos, em 2016, para 53,72 milhões de metros cúbicos, em 2019. No mesmo intervalo de tempo, a taxa de cobertura do abastecimento de água por rede aumentou de 66,4 por cento para 71,7 por cento", garantiu ainda o governante.
O ministro afirmou que estas são "medidas de reforço da resiliência e de fomento para que a agricultura e a pecuária deixem de ser simplesmente de subsistência para se orientarem gradualmente para o rendimento".
"A resiliência não é só um conceito nem uma eventualidade, ela é necessária e está a ser aplicada de facto, ela é essencial para a sustentabilidade ambiental, social e económica do país", apontou.
Por sua vez, o PAICV, principal partido da oposição, acusou o Governo de ter-se esquecido da importância do investimento na agricultura e ter estabelecido outras prioridades que não coincidem com os interesses e as expetativas dos homens do campo.
Através do deputado João Batista de Sousa, o PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde) começou por referir que foram reduzidos os investimentos no campo, foram desestruturados os serviços de extensão rural e foram eliminados os apoios e incentivos aos agricultores.
No seu entender, a gestão dos efeitos da seca “foi desastrosa”, o que levou à perda de milhares de cabeças de gado, provocando o empobrecimento de muitas famílias e a destruição de uma economia “que durou anos a ser estruturada e qualificada”.
Segundo o PAICV, todos sabiam que as medidas de mitigação do mau ano agrícola eram desajustadas da realidade, « menos o ministro da Agricultura que insistiu na via criticada pelos camponeses e reprovada pelos criadores de gado ».
Sobre o ambiente, o representante do PAICV afirma que procurou vislumbrar na prática o que foi feito, mas, que "parece que os investimentos foram adiados para o novo mandato.
Do lado da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), o líder deste partido de oposição com três assentos no Parlamento, António Monteiro, assinalou que “este Governo, infelizmente, fez muito anúncio, mas na prática não tem sido suficientemente eficiente para ajudar a resolver os problemas dessa população”.
A UCID defendeu ainda que a falta de chuva não devia ser um pretexto para dizer que não se conseguiu ajudar os agricultores e criadores de gado a resolver os seus problemas, já que existem tecnologias “acessíveis e baratas”.
Já o Movimento para a Democracia (MpD, no poder) considera que, apesar do período de seca prolongada, os setores agrícola e ambiental atravessam um bom momento e que as medidas adotadas fazem parte desse sucesso.
Como exemplo, o deputado do partido da situação, Alcides de Pina, apontou que, nos últimos anos, se têm registado investimentos significativos destinados ao reforço e melhoramento das infraestruturas agrícolas; investimento na modernização das atividades agrícolas que beneficiaram mais de 32 mil criadores e 79 mil agricultores e aposta na modernização do setor através de um sistema de incentivos eficaz e atrativo.
“Temos a destacar especificamente, no domínio da agricultura, o incremento do sistema de rega gota-gota passou de 27 por cento, em 2016, para 41 por cento, em 2019; Implementação de 99 sistemas de bombagem com energia solar em todos os municípios do país; a construção da Adega provisória de vinho de Chã das Caldeiras”, enumerou.
No domínio da mobilização de água e saneamento, o deputado do MpD citou a criação da empresa Água de Rega; a mobilização de mais de 18 milhões de metros cúbicos de água subterrânea para rega em 2019; a nstalação de dessalinização de 1.200 metros cúbicos/dia em Rª da Barca e adução à Assomada, entre outros.
“São esses investimentos oportunamente executados que nos permitem superar a situação de falta de chuva que nos tem apoquentado. É verdade que muitos dirão, é pouco, é preciso mais. Nós somos os primeiros a reconhecer tal facto. Por isso queremos fazer sempre mais e melhor nesse domínio em particular e pelo setor agrícola e pelos agricultores”, garantiu.
-0- PANA CS/IZ 12março2021