Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde implementa plano integrado de combate ao alcoolismo

Praia, Cabo Verde (PANA) – Cabo Verde terá, “em breve”, um plano integrado de combate ao alcoolismo, um fenómeno que atinge proporções alarmante no arquipélago com níveis de consumo acima da média africana, apurou a PANA de fonte oficial.

O mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que os Cabo-verdianos consumiram, em 2010, uma média de 6,9 litros de álcool puro por ano, ligeiramente mais do que em 2003-2005 (6,5).

Esta variação representa uma subida para 17,9 litros quando se excluem os 61,4 porcento dos abstémios do país.

Com a mais alta percentagem de mortes associadas ao álcool entre os lusófonos africanos, ou seja 3,6 porcento da população, Cabo Verde tem também uma frequência superior à média africana de perturbações ligadas ao consumo de álcool (5,1 porcento).

Segundo a ministra-adjunta e da Saúde, Cristina Fontes, a Direção Nacional da Saúde está incumbida de preparar esse plano, que trará “medidas eficazes de combate” a essa problemática a nível nacional, privilegiando “questões de prevenção, sensibilização e repressão”.

No plano integrado de combate ao alcoolismo, vão estar definidas as medidas ligadas à prevenção, sensibilização, repressão, licenciamento e ao controlo de qualidade das bebidas alcoólicas, disse Fontes no final de uma visita a Santo Antão, uma das ilhas mais afetadas pelo problema de alcoolismo.

Sobre este último ponto (qualidade), a ministra anotou que, além da aguardente produzida a partir de produtos nocivos à saúde, as autoridades estão também preocupadas pela qualidade de alguns vinhos que chegam a Cabo Verde e têm criado graves problemas de saúde aos consumidores.

No caso da ilha Santo Antão, a principal produtora de aguardente de cana sacarina (grogue), as autoridades sanitárias têm estado a alertar que o consumo desta bebida de má qualidade tem sido responsável pelo óbito de muitas pessoas, sobretudo jovens.

Um inquérito divulgado em maio passado sobre o uso de substância psicoativa em Cabo Verde aponta que o álcool é a droga lícita mais consumida na camada juvenil, ou seja, 11,5 porcento da juventude inicia o consumo antes dos 15 anos.

Apesar de haver leis que proíbem a venda e o consumo de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos, o álcool está cada vez mais presente na rotina dos jovens que, muitas vezes, sem conhecimento dos pais, têm acesso livre a bebidas em festas, discotecas e bares.

Na opinião de especialistas sobre esta problemática, um dos fatores que levam os jovens a iniciarem com alguma precocidade o consumo de álcool em Cabo Verde é o de ordem cultural.

“Não se tem muita informação sobre os males que o álcool pode fazer nas crianças e nos jovens. E a essa cultura, em que os pais acham interessante colocar à criança um dedo molhado de bebidas alcoólicas para ver a cara que a criança faz, e ela vai se habituando”, opina o psiquiatra Manuel Faustino.

Para este especialista, também os jovens começam a beber mais cedo por causa de muitas interferências da própria sociedade.

Essas interferências, disse, possibilitam ao adolescente escolher entre o consumo ou não de álcool, uma vez que, ao mesmo tempo em que os jovens sabem dos riscos das bebidas alcoólicas, eles têm o incentivo, tanto da publicidade como de seus amigos.

“A publicidade é um dos elementos que complica, e não é por acaso que, cada vez mais se associam o consumo do álcool a atividades ligadas aos jovens, como festivais, concursos, entre outros”, precisou.

-0- PANA CS/IZ 04julho2014