Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde implementa novo sistema de transportes marítimos inter-ilhas

Praia, Cabo Verde (PANA) – Cabo Verde vai implementar, no início do próximo ano, um novo sistema de transportes marítimos inter-ilhas com base em contratos de concessão a serem assinados entre o Governo e operadores do setor, soube a PANA, quinta-feira, na cidade da Praia, de fonte oficial.

O novo sistema tem como suporte um estudo que encoraja o Governo a apoiar a reestruturação de todo o sistema de transportes marítimos inter-ilhas, o que passa pela modernização das frotas, pela dotação do setor de um sistema sustentável de financiamento, pela criação de grupos de concessões e pela organização de bases logísticas de mercadorias.

Com o novo sistema, o estudo propõe dois grupos de concessões, nomeadamente o A, que em princípio será liderado pela companhia de transportes marítimos Cabo Verde Fast Ferry e outros operadores interessados, e o B, que seria constituído pelos operadores do norte do arquipélago.

O estudo aconselha igualmente a criação de três centros logísticos, nomeadamente na Praia, em São Vicente e no Sal, que serão geridos através de concessão.

Falando à imprensa no final da apresentação do documento, o assessor para área de Planeamento Estratégico do Ministério das Infraestruturas e Economia Marítima (MIEM), Anastácio Silva, esclareceu que o estudo propõe também a criação de um fundo autónomo de desenvolvimento de transportes marítimos que vai apoiar os operadores na aquisição de embarcações com idade máxima de 15 anos, nas reparações, entre outros aspetos.

Anastácio Silva sublinhou também que “o estudo apresenta um conjunto de constrangimentos que é preciso atacar para que o país possa ter um verdadeiro sistema de transportes inter-ilhas”.

Entre eles, aponta-se a existência de empresas com sistema de gestão ineficiente, sem contabilidade montada, nem gestores profissionais, incumprimento dos horários, entre outros.

A intenção do Governo é trabalhar com os armadores nacionais neste projeto, disse o especialista, anotando que, não sendo possível a participação de operadores nacionais, pode-se recorrer a concurso internacional para se atribuir as concessões.

“O novo modelo de transportes inter-ilhas é uma oportunidade que o Estado está a colocar em cima da mesa para os armadores”, sublinhou, precisando que, em termos de vantagens, “os armadores vão ter a concessão da exploração das rotas por um bom tempo e vão receber a compensação no caso de défice de exploração”.

Anastácio Silva disse também que o Governo vai exigir que os operadores cumpram um conjunto de requisitos, nomeadamente a qualidade da frota, o número de embarcações e a capacidade de assegurar que os horários estabelecidos sejam cumpridos.

O coordenador do estudo acrescentou que com o novo sistema “os operadores terão de cumprir rigorosamente os calendários de manutenção, de reparação, critérios de segurança, transparência dos preços, manutenção de horários regulares e garantia dos direitos dos utilizadores dos serviços dos transportes”.

Com a implementação destas medidas, o Governo procura dar resposta às deficiências que o arquipélago enfrenta no setor da ligação marítimas entre as ilhas, o que tem tido um reflexo negativo no desenvolvimento económico das mesmas.

Para além de um frota marítima insuficiente e velha, a marinha mercante cabo-verdiana perdeu nos últimos anos algumas das suas unidades na sequência de incidentes que levaram ao seu afundamento ou inutilização.

Só este ano já se contabilizam a parda de dois barcos: o navio “Pentalina B”, que encalhou numa praia da ilha de Santiago e não foi recuperado, e a embarcação “John Miller”, que se afundou, no início deste mês de agosto na entrada do porto de Sal Rei, na ilha da Boa Vista, com um carregamento de combustíveis que continua a ser retirado por uma equipa de mergulhadores.

-0- PANA CS/TON 28agosto2014