Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde identifica 153 tubarões e raias por preservar

Praia, Cabo Verde (PANA) - Pelo menos 153 tubarões e raias que precisam de ser preservados foram identificados, na reserva da ilha cabo-verdiana desabitada de Santa Luzia, apurou a PANA terça-feira de fonte autorizada.

A descoberta destas espécies resulta do programa de conservação de tubarões e raias, promovido pela Organização não Governamental Biosfera Cabo Verde.

Em declarações à agência cabo-verdiana de noticias (Inforpress), o coordenador da investigação, Stiven Pires, esclareceu que este é o resultado do Programa proteção de Elasmobrânquios de Cabo Verde que a Biosfera tem em curso desde outubro do ano passado, depois de ter participado um projeto com o mesmo nome, com diversos outros parceiros nacionais e internacionais, que decorreu de 2015 a 2017.

“O objetivo é conhecer maior parte das espécies, principalmente da reserva marinha de Santa Luzia, e saber a biologia destas, nomeadamente da raia viola barba-negra.

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Segundo a mesma fonte, esta última é uma espécie que, neste momento, está ameaçada de extinção, enquanto o tubarão doninha do Atlântico, que é uma espécie endémica de Cabo Verde.

Stiven Pires acrescentou que, mesmo assim, outras espécies de elasmobrânquios também têm sido estudadas.

A ideia, conforme o biólogo marinho, é saber em que sítios estes podem ser encontrados dentro da reserva e a sua biologia, com a identificação destes indivíduos com um sistema de rede acústico, colocados através de tac.

O programa pretendia ainda colocar recetores no mar para captar os sinais destes animais, um elemento que não foi possível implementar devido a situação da covid-19, sendo este trabalho adiado para o próximo ano.

Para o estudo foram feitas algumas saídas de campo, 14 no período de um ano, desde outubro de 2019, e cuja última aconteceu no final desta semana.

“Conseguimos colocar tac em 153 tubarões e raias e a maioria é Viola barba-negra”, informou Stiven Pires, adiantando que na última viagem conseguiram identificar mais 14 animais.

Um trabalho feito, conforme a mesma fonte, através de um “método simples”, em que os animais são capturados, mantendo sempre a oxigenação e os dispositivos são colocados, feita tiragem de ADN e medição, tudo num período de 90 segundos.

“Porque, assim quando houver alguma recaptura, saberemos como estão, quanto cresceram e onde permaneceram ou se deslocaram”, explicou o investigador, indicando outras seis espécies identificadas, entre as quais tubarão-tigre e tubarão-martelo.

Sobre alguns destes, já é possível saber que a reserva serve de local de alimentação ou apenas parte da rota de migração, para outras serve de berçário

Quanto à doninha e viola, Stiven Pires disse acreditar que a reserva de Santa Luzia é mesmo o seu habitat natural, isto porque tem sido capturados não só adultos, mas também crias.

Por isso, o biólogo apelou às autoridades para aumentarem as ações dentro da reserva de modo a proteger ainda mais estas e outras espécies. Também  pediu aos pescadores de pesca artesanal, que, caso encontrem os animais identificados pelas tac, com o número individual do animal e um número de telefone, para fazerem a Biosfera saber.

“Estes devem anotar o número do animal e enviar ou fazer uma chamada para o número de telefone com a localização e a data em que foram identificados”, reiterou Stiven Pires, para quem essa é uma “informação valiosa” para se saber mais sobre a biologia destes tubarões e raias.

Desta forma,  conta-se conhecer mais estes animais, que “não são ameaçadores à raça humana, mas sim contribuem para o equilíbrio ecológico marinho, como um dos animais mais importantes no mar”.

“Tirá-los do mar poderá desencadear um efeito em cadeia, que, infelizmente, não é a curto prazo, já que se fosse as pessoas já sentiriam os efeitos, mas quem vai sentir são os nossos filhos e netos, que vão reparar nas consequências das ações de agora”, lançou.

Acrescentou terem feito workshops com as comunidades piscatórias de São Vicente, que sempre se mostraram dispostas a ajudar, isto embora “a pesca artesanal não seja realmente a ameaça, o perigo está na pesca industrial, resultante principalmente dos acordos assinados (por Cabo Verde) com outros países”.

A Biosfera, considerou Stiven Pires, está neste momento, à procura de outros financiamentos para continuar o projeto, que agora tem como mascotes “Tubah” (tubarão) e “Vivi” (viola), que pretendem trabalhar para a consciencialização dos mais novos sobre a necessidade da preservação dessas espécies marinhas.

-0- PANA CS/IZ 03nov2020