Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde desmente envio de emissários à Venezuela após detenção de Saab

Praia, Cabo Verde (PANA) - Cabo Verde desmentiu, quarta-feira, ter enviado dois emissários à Venezuela, para  contactos com o Presidente Nicolas Maduro, na sequência da detenção, a 12 de junho, do empresário colombiano Alex Saab.

“O Governo de Cabo Verde não enviou ninguém, nem qualquer missão à República Bolivariana da Venezuela”, lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades.

O desmentido do Executivo cabo-verdiano surge na sequência de uma notícia do jornal norte-americano de língua espanhola "El Nueno Herald", dando conta do envio de tais emissários a Caracas.

Segundo a mesma notícia, os emissários enviados por Cabo Verde para um "encontro secreto" com o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, são o ex-diretor-geral do Turismo, Carlos Anjos, e o atual presidente do Conselho de Administração da empresa farmacêutica (Emprofac), Gil Évora.

O jornal, um diário publicado no sudeste da Flórida, refere que os dois “cabo-verdianos chegaram secretamente à Venezuela segunda-feira e passaram a noite no Palácio Presidencial, em Miraflores.

A missão, escreve El Nuevo Herald, que cita fontes anónimas, mas que estarão “a par da situação”, inscreve-se nos esforços de Nicolás Maduro, "para levar Cabo Verde a liberta o seu principal parceiro, o empresário colombiano Alex Saab, procurado pelos Estados Unidos por lavagem de dinheiro”.

Carlos Anjos e Gil Évora teriam chegado a Caracas em avião particular pelo terminal presidencial, conhecido na Venezuela como “Rampa Cuatro”.

À sua chegada, ficou-se a saber pela documentação que os identificava como Carlos Jorge Oliveira Gomes Dos Anjos e Fernando Gil Alves Évora, escreve o mesmo jornal.

Do aeroporto internacional de Maiquetía, os indivíduos teriam sido levados ao Palácio presidencial, porque “eles dormiram em Miraflores, não foram alojados em hotéis”.

“Embora as negociações no Palácio tenham ocorrido a portas fechadas, as fontes disseram que elas estavam relacionadas com a luta diplomática entre Caracas e Washington sobre o pedido de extradição da Saab para os Estados Unidos e que a reunião durou até à noite”, afirma o jornal

Acrescenta que “Maduro participou por videoconferência, bem como várias personalidades do Chavismo, entre as quais os ministros do Petróleo, Tareck El Aissami, e da Informação, Jorge Rodríguez.”

Em comunicado distribuído à imprensa, o Governo cabo-verdiano sublinha que "a República de Cabo Verde é um Estado de Direito democrático, onde os tribunais são independentes e as garantias de defesa se aplicam a todos os indivíduos".

"Razão pela qual existe confiança no sistema judicial, que decidirá sobre o caso de extradição do senhor Alex Nain Saab Morán em curso", lê-se no mesmo comunicado.

De acordo ainda com o documento, o Governo cabo-verdiano "adverte que qualquer ação, contacto ou 'démarches' fora do quadro institucional e de representação oficial são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não vinculam o Estado de Cabo Verde".

O arquipélago de Cabo Verde está no centro de uma disputa entre os Estados Unidos e a Venezuela, desde a detenção daquele empresário colombiano, de 48 anos, em 12 de junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas.

A detenção ocorreu durante uma escala técnica, no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos Estados Unidos, que o consideram um testa-de-ferro de Nicolás Maduro.

Contudo, a defesa e o Governo da Venezuela insistem na ilegalidade da detenção, por ele viajar com passaporte diplomático, como "enviado especial" do Executivo de Maduro.

Mas o Tribunal da Relação do Barlavento, na ilha de São Vicente, a quem competia a decisão de extradição, aprovou esse pedido, em 31 de julho, e defesa de Saab recorreu para o Supremo Tribunal do país.

A detenção de Saab em Cabo Verde foi classificada pelo Governo da Venezuela como "arbitrária" e uma "violação do direito e das normas internacionais".

O Governo de Maduro denunciou "ações de agressão e cerco contra o povo venezuelano, empreendidas pelo Governo dos Estados Unidos da América".

Saab era procurado pelas autoridades norte-americanas, há vários anos, suspeito de acumular numerosos contratos, de origem considerada ilegal, com o Governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Em 2019, procuradores federais, em Miami, acusaram Alex Saab e um seu sócio por suspeita de operações de lavagem de dinheiro, relacionadas com um suposto esquema de suborno para desenvolver moradias de baixa renda para o Governo venezuelano, que nunca foram construídas.

O antigo juiz espanhol Baltasar Garzón lidera a equipa internacional que defende o empresário colombiano e já acusou o Governo de Cabo Verde de "prejudicar" a defesa de Alex Saab, que detém igualmente a nacionalidade venezuelana.

-0- PANA CS/IZ 20ago2020