Cabo Verde considera morte do ex-Presidente angolano "perda de um grande amigo"
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, afirmou, sexta-feira, que Cabo Verde está "de luto" com a morte, ocorrida sexta-feira próxima, do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Reagindo a esta triste notícia, à mar de uma visita à ilha cabo-verdiano do Sal, José Maria Neves sublinhou que o país "perdeu um grande amigo."
O chefe de Estado cabo-verdiano destacou que o ex-Presidente angolano foi “um líder africano que sempre contribuiu para o crescimento económico e espiritual destas ilhas.”
"O Presidente José Eduardo dos Santos foi um grande amigo de Cabo Verde, apoiou em vários momentos o processo de desenvolvimento do nosso país, mas também é um grande amigo dos cabo-verdianos em Angola", lamentou afirmou o Presidente cabo-verdiano.
"Temos de lamentar a morte de José Eduardo dos Santos e apresentar ao Governo e ao povo de Angola as nossas condolências, e também enviar um abraço de amizade e solidariedade à família de José Eduardo dos Santos", acrescentou.
José Maria Neves foi primeiro-ministro de Cabo Verde de 2001 a 2016, período em que José Eduardo dos Santos, enquanto Presidente de Angola (1979 a 2017), chefiava igualmente o Executivo angolano.
Também o ex-Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, recordou José Eduardo dos Santos como uma "figura central na grande mudança" ocorridas na África Austral, relativizando críticas sobre corrupção, nepotismo ou falta de democracia a ele dirigidas.
"O Presidente José Eduardo dos Santos foi uma figura central no processo que conduziu à mudança do regime sul-africano, à independência da Namíbia, enfim, à grande mudança na África Austral", disse o ex-estadista cabo-verdiano (2001-2011), que foi um dos líderes da luta contra o regime colonial português na Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Pedro Pires, de 88 anos de idade, disse que já se esperava pela morte, mas considerou que ela é sempre "chocante" e mexe com os sentidos, sobretudo os sentimentos do passado.
"Entendo que a morte do Presidente José Eduardo dos Santos é uma grande perda para Angola, para África e para a África Austral em particular", considerou Pedro Pires, também ex-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, atualmente na oposição no país).
Para ele, José Eduardo dos Santos teve o mérito de, numa situação de enorme complexidade, lançar as bases da construção de um Estado moderno e integrador em Angola e que garantiu a unidade nacional, territorial e da nação angolana.
"São elementos fundamentais para a construção de um futuro diferente", reforçou Pedro Pires, recordando que o ex-diri anglano conseguiu tudo isso "apesar de todas as ingerências externas e internas no sentido de dificultar esse processo unificador e consolidador da independência de Angola."
"Entendo que desempenhou um papel fundamental. É esse estadista que África acabou de perder", prosseguiu, considerando que é importante fazer a análise na perspetiva da libertação e complexidade do processo de construção do novo Estado e da nova nação angolana.
"Acho que é importante começar pelo prioritário, que é fundamental, dispor de um Estado soberano, forte, que possa oferecer as condições para que depois se faça todo o resto, desde a construção económica, passando pelas mudanças institucionais que forem necessárias", frisou.
A seu ver, os grandes debates de hoje sobre a ditadura e a corrupção devem ser vistos de outra forma e não se pode repetir os argumentos daqueles que gostariam que Angola não fosse independente.
José Eduardo dos Santos faleceu sexta-feira última aos 79 anos de idade (faria 80 anos a 28 de agosto próximo), vítima de uma prolongada doença, numa clínica em Barcelona, na Espanha.
Governou Angola desde 1979 até 2017.
-0- PANA CS/DD 09julho2022