Agência Panafricana de Notícias

CPJ denuncia detenção de 2 jornalistas ivoirienses

Nova Iorque, Estados Unidos (PANA) – O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) declarou-se preocupado pelo rumo de dois jornalistas ivoirienses detidos sem acusação há 10 dias e que teriam sofrido torturas.

Aboubacar Sanogo e Yayoro Charles Lopez Kangbé estão detidos pela Polícia ivoiriense em Abidjan desde 28 de janeiro, segundo a imprensa local.

Estes jornalistas foram qualificados de « rebeldes » pelos jornais que apoiam o Presidente cessante, Laurent Gbagbo, que, tal como o seu opositor Alassane Ouattara, reivindica a vitória nas eleições presidenciais de 28 de novembro último.

As autoridades reveleram que nenhuma acusação foi feita contra os dois jornalistas e não forneceram nenhuma descrição ou prova dos seus presumíveis delitos.

A Constituição ivoiriense proíbe a detenção sem acusação além de 48 horas, segundo peritos judiciais ivoirienses.

A imprensa local indicou que Sanogo e Kangbé realizaram programas para a "Notre Patrie", uma cadeia de televisão gerida pelos ex-rebeldes das Forças Novas que controlam o norte do país desde que eclodiu um conflito civil que dividiu a Côte d'Ivoire em duas partes desde 2002.

Sediada na cidade Bouaké, no norte, esta cadeia televisiva divulga os seus programas numa frequência da Radiotelevisão Ivoiriense (RTI), declararam jornalistas locais ao CPJ.

Apesar de não ter autorização da autoridade encarregue de regular o setor audivisual, os jornalistas da cadeia televisiva realizaram entrevistas com vários responsáveis do Governo de Laurent Gbagbo e cobriram as suas visitas à região de Bouaké, declarou ao CPJ o jornalista Ladji Abou Sanogo.

Sanogo e Kangbé deslocavam-se ao Golf Hotel em Abidjan, o quartel-general onde se refugiou o líder da oposição Alassane Ouattara, para entrevistas quando membros das forças fiéis a Laurent Gbagbo os detiveram.

O porta-voz da Operação Nações Unidas na Côte d'Ivoire (ONUCI), Kenneth Blackman, declarou à imprensa local que Sanago e Kangbé viajaram a bordo dum aparelho das Nações Unidas de Bouaké para Abidjan antes da sua detenção.

Brahima Coulibaly, advogado que defende os dois jornalistas, declarou à imprensa local que Sanogo e Kangbé foram batidos com batão e queimados com cigarros durante a sua detenção e Idriss Nayoun Soro, um outro advogado, confirmou estas maus tratamentos infligidos aos jornalistas em entrevista concedida ao CPJ.

A Polícia apreendeu os aparelhos de registro dos dois jornalistas, notaram os advogados, mas não encontrou armas nem elementos que provam atividade rebelde destes últimos.

Abordado sobre as alegadas torturas que sofreram os jornalistas, o porta-voz da Polícia, o capitão Ange Nouko, declarou ao CPJ: « não estou ao corrente de nada », enquanto o ministro da Comunicação de Gbagbo, Ouattara Gnonzié, não reagiu aos convites repetidos do CPJ para comentar este caso.

« Ao deter os jornalistas Aboubacar Sanogo e Yayoro Charles Lopez Kangbé sem as garantias previstas pela lei, o Governo de Gbagbo viola a Constituição ivoiriense que ele jurou respeitar em público », afirmou o coordenador de Advocacia do CJP para África, Mohamed Keïta.

« Lançamos um apelo a Laurent Gbagbo para que faça libertar estes jornalistas, para que seja posto fim aos maus tratamentos que lhes são infligidos e que seja aberto um inquérito para julgar os responsáveis deste abuso », defendeu.

O CPJ diz estar preocupado igualmene pelo rumo de Wohi Douti e de Traoré Salam, dois técnicos da RTI detidos a 5 de janeiro. Gnonzié declarou ao CPJ em janeiro que as autoridades detiveram os dois homens por « sabotagem » dos equipamentos da rádiotelevisão oficial.

Gbagbo recusou-se a reconhecer os resultados da segunda volta das presidenciais de 28 de novembro de 2010 que proclamaram a vitória de Ouattara pela Comissão Eleitoral Independente.

A vitória de Ouattara foi reconhecida pelas Nações Unidas e pela maioria da comunidade internacional, enquanto o Conselho Constitucional ivoiriense declarou Gbabgo vencedor.

-0- PANA PR/VAO/FJG/TBM/IBA/MAR/TON 09fev2011