Agência Panafricana de Notícias

Bissau entre o luto e o retorno à normalidade

general Batista Tagmé Na Waié- chefe do Estado-Maior--General das Forças Armadas bissau-guineenses assassinado a 1 de Março corrente, a cidade de Bissau continuou sábado o seu retorno progressivo à normalidade após a dupla tragédia que enlutou o país inteiro ceifando também a vida do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira.
Os restos mortais do “generalíssimo” Tagmé Na Waié, perecido numa explosão de bomba junto do seu gabinete em Bissau, vão finalmente a enterrar domingo de manhã num acto inicialmente agendado para este sábado, mas adiado “a pedido da sua família”, segundo fontes oficiais.
Com efeito, a PANA constatou que, nos últimos quatro dias da semana, a vida na capital do país foi decorrendo na tranquilidade, com os serviços administrativos, de transportes e comerciais, incluindo os mercados informais, em pleno funcionamento, à excepção de algumas actividades socioculturais suspensas pelo luto nacional vigente até ao funeral do Presidente Nino Vieira na próxima terça-feira.
Alguns citadinos de Bissau contactados a este propósito dizem estar cada vez menos pessimistas, menos receosos, à medida que o tempo vai passando, e que acreditam estar “quase ultrapassado” o espectro de golpe de Estado que se apoderou do país logo após a morte do seu Presidente e do chefe das Forças Armadas.
“Como pode constatar, estamos aqui a trabalhar normalmente como se nada tivesse acontecido, apesar de não termos esquecido o que houve.
O movimento é normal, contrariamente aos primeiros momentos do pós- ataque, quando tudo esteve paralisado”, disse, sorridente, um vendedor de Bandim, o maior mercado informal de Bissau.
Para este clima desanuviado, terão certamente contribuído os reiterados apelos para a calma dirigidos, desde o início, à população pelos militares, que prometem subordinar-se ao poder civil, descartando quaisquer intenções de golpe de Estado, e desmentindo os rumores de “caça às bruxas”.
Alguns observadores opinam que a esta prudência demonstrada pelos militares, quando todos esperavam o pior, não estará aparentemente alheio o medo de enfrentar o peso da comunidade internacional que, nos últimos tempos, tem conseguido revelar alguma firmeza na sua hostilidade contra alterações de regimes políticos por meios militares.
Um dos primeiros elementos confortantes que terá conferido alguma credibilidade às promessas dos militares foi a consumação do emposse terça-feira do novo chefe de Estado interino, o jurista Raimundo Pereira, até então presidente da Assembleia Nacional, agora encarregue de dirigir o país até à realização de eleições presidenciais antecipadas dentro de dois meses como o estipula a Constituição do país.
Porém, enquanto decorrem as competentes investigações sobre as circunstâncias do duplo assassinato de Tagmé Na Waié e de Nino, a 1 e a 2 de Março corrente, respectivamente, mantém-se o enigma em torno da identidade dos seus executores e dos seus autores morais.
Este vazio de informação tem alimentado especulações diversas, incluindo a crença na hipótese duma morte de Nino Vieira por homens fiéis a Na Waié desejosos de se vingar do assassinato deste último que eles estariam alegadamente a atribuir ao primeiro.
Outros preferem manter em aberto todas as “possibilidades possíveis”, incluindo o aproveitamento por terceiros da circunstância da morte de Na Waié para tentar induzir um ajuste de contas às expensas dos velhos desentendimentos que minavam o relacionamento dos dois estadistas.
Mas, para a família de Na Waié, a única explicação válida para o desaparecimento do seu ente querido é que se tratou dum acto encomendado pelo Presidente Nino Vieira e que todas as demais versões “não fazem sentido nenhum”.
“Foi Nino (Vieira) que matou o nosso pai”, disse à imprensa uma das filhas do defunto chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.