PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
Bispos católicos imputam crise em Angola à corrupção e nepotismo
Luanda, Angola (PANA) – Os bispos da Igreja Católica em Angola apontaram quinta-feira o nepotismo e a corrupção “generalizada” como algumas das causas da atual crise económica no país, oficialmente justificada pela queda dos preços do petróleo no mercado internacional.
Numa nota pastoral emitida no termo da sua primeira Assembleia Geral ordinária de 2016, realizada na cidade de N’Dalatando, capital da província nortenha do Cuanza-Norte, os bispos denunciam igualmente o que chamam de “mentalidade do compadrio e falta de ética”.
No seu entender, assiste-se no país, hoje, à “falta de critério no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes e importação de coisas supérfluas que não aproveitam à comunidade”.
A atual crise económico-financeira em que o país se encontra mergulhado “não se deve apenas à queda do preço do petróleo, mas igualmente à falta de ética, à má gestão do erário público, à corrupção generalizada, à mentalidade de compadrio e ao nepotismo”, afirmam.
Segundo eles, esta crise resulta ainda da “discriminação derivada da partidarização crescente da Função Pública, que sacrifica a competência e o mérito”.
Como consequência, prosseguem, aumentou “assustadoramente” o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos “que se apoderam das riquezas nacionais, riquezas muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”.
“Nos últimos tempos, a pobreza das nossas populações tem-se agravado de maneira preocupante, e a instabilidade económica parece estar a paralisar paulatinamente os agentes económicos, impossibilitando-lhes a renovação de mercadorias, por falta de divisas”, lamentam.
De acordo ainda com a sua nota pastoral, regista-se “aqui e acolá”, tanto no setor público como no privado, “atrasos de salários e subida vertiginosa de preços de bens elementares”.
Ao mesmo tempo, indicam, aumentou “de forma dramática” o índice de mortalidade de crianças e adultos, vítimas de doenças como o paludismo, a diarreia e a febre amarela”.
“Isto deve-se, principalmente, ao descuido da Saúde Pública e preventiva, à falta de saneamento básico, à falta de higiene pública e privada, à falta de água e à acumulação de lixo (…), referem, antes de sublinhar que “assistimos a uma insensibilidade quase crónica perante o mal, a doença e a morte do próximo”.
Acrescentam que, em muitos hospitais, isto traduz-se “no desvio de medicamentos para farmácias ou unidades de saúde privadas e mercado paralelo, onde são vendidos a preços insuportáveis para a maioria da população”.
Os bispos revelam que, além da falta de medicamentos indispensáveis, os doentes em muitos hospitais não recebem alimentação, enquanto “muitas das nossas estradas tornaram-se intransitáveis, isolando populações e criando condições para o aumento de acidentes”.
“Não menos preocupante é a partidarização dos meios de comunicação social que, por direito, devem estar ao serviço de todos. É igualmente grave com a prevalência de espetáculos de conteúdo moral, científico e cultural duvidoso, banalizando a cultura das nossas populações angolanas”, anotam.
Para o clero católico, aumentou no país o clima de insegurança nas cidades e no campo, onde “por tudo e por nada, assassinam-se friamente as pessoas, multiplicam-se as violações sexuais e os roubos e, muitas vezes, os crimes acabam impunes”.
A este propósito, a nota pastoral indica que muitos cidadãos perderam fé nas instituições públicas e estatais, encarando o futuro com pessimismo como, por exemplo, “nos bancos”, onde quem depositou divisas “dificilmente” as recebe quando delas necessita.
“A reclamação contra os direitos violados nem sempre é atendida com a rapidez que a situação reclama; o mesmo vale para os hospitais e centros de saúde, com carências humanas e físicas de toda a ordem. Também na escola há dificuldades, com a matrícula, frequentes vezes, a ser condicionada pela “gasosa”, termo popular para o suborno.
Sublinhando que isto “não favorece nem o amor pátrio nem a fraterna solidariedade, que deve marcar a nossa sociedade”, os bispos de Angola dizem-se perplexos verificar que “análises lúcidas, críticas bem fundadas e construtivas, destinadas à construção do bem comum, sejam, muitas vezes, interpretadas como ataque às instituições e à ordem pública em geral”.
-0- PANA IZ 11março2016
Numa nota pastoral emitida no termo da sua primeira Assembleia Geral ordinária de 2016, realizada na cidade de N’Dalatando, capital da província nortenha do Cuanza-Norte, os bispos denunciam igualmente o que chamam de “mentalidade do compadrio e falta de ética”.
No seu entender, assiste-se no país, hoje, à “falta de critério no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes e importação de coisas supérfluas que não aproveitam à comunidade”.
A atual crise económico-financeira em que o país se encontra mergulhado “não se deve apenas à queda do preço do petróleo, mas igualmente à falta de ética, à má gestão do erário público, à corrupção generalizada, à mentalidade de compadrio e ao nepotismo”, afirmam.
Segundo eles, esta crise resulta ainda da “discriminação derivada da partidarização crescente da Função Pública, que sacrifica a competência e o mérito”.
Como consequência, prosseguem, aumentou “assustadoramente” o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos “que se apoderam das riquezas nacionais, riquezas muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”.
“Nos últimos tempos, a pobreza das nossas populações tem-se agravado de maneira preocupante, e a instabilidade económica parece estar a paralisar paulatinamente os agentes económicos, impossibilitando-lhes a renovação de mercadorias, por falta de divisas”, lamentam.
De acordo ainda com a sua nota pastoral, regista-se “aqui e acolá”, tanto no setor público como no privado, “atrasos de salários e subida vertiginosa de preços de bens elementares”.
Ao mesmo tempo, indicam, aumentou “de forma dramática” o índice de mortalidade de crianças e adultos, vítimas de doenças como o paludismo, a diarreia e a febre amarela”.
“Isto deve-se, principalmente, ao descuido da Saúde Pública e preventiva, à falta de saneamento básico, à falta de higiene pública e privada, à falta de água e à acumulação de lixo (…), referem, antes de sublinhar que “assistimos a uma insensibilidade quase crónica perante o mal, a doença e a morte do próximo”.
Acrescentam que, em muitos hospitais, isto traduz-se “no desvio de medicamentos para farmácias ou unidades de saúde privadas e mercado paralelo, onde são vendidos a preços insuportáveis para a maioria da população”.
Os bispos revelam que, além da falta de medicamentos indispensáveis, os doentes em muitos hospitais não recebem alimentação, enquanto “muitas das nossas estradas tornaram-se intransitáveis, isolando populações e criando condições para o aumento de acidentes”.
“Não menos preocupante é a partidarização dos meios de comunicação social que, por direito, devem estar ao serviço de todos. É igualmente grave com a prevalência de espetáculos de conteúdo moral, científico e cultural duvidoso, banalizando a cultura das nossas populações angolanas”, anotam.
Para o clero católico, aumentou no país o clima de insegurança nas cidades e no campo, onde “por tudo e por nada, assassinam-se friamente as pessoas, multiplicam-se as violações sexuais e os roubos e, muitas vezes, os crimes acabam impunes”.
A este propósito, a nota pastoral indica que muitos cidadãos perderam fé nas instituições públicas e estatais, encarando o futuro com pessimismo como, por exemplo, “nos bancos”, onde quem depositou divisas “dificilmente” as recebe quando delas necessita.
“A reclamação contra os direitos violados nem sempre é atendida com a rapidez que a situação reclama; o mesmo vale para os hospitais e centros de saúde, com carências humanas e físicas de toda a ordem. Também na escola há dificuldades, com a matrícula, frequentes vezes, a ser condicionada pela “gasosa”, termo popular para o suborno.
Sublinhando que isto “não favorece nem o amor pátrio nem a fraterna solidariedade, que deve marcar a nossa sociedade”, os bispos de Angola dizem-se perplexos verificar que “análises lúcidas, críticas bem fundadas e construtivas, destinadas à construção do bem comum, sejam, muitas vezes, interpretadas como ataque às instituições e à ordem pública em geral”.
-0- PANA IZ 11março2016