Banco de Cabo Verde concede moratórias no pagamento de crédito
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Banco de Cabo Verde (BCV) disponibilizou quinta-feira cerca de 400 milhões de euros para o setor bancário, permitindo assim moratórias de pelo menos três meses no pagamento de créditos, anunciou a própria entidade.
Este financiamento inscreve-se no quadro da implementação de um pacote excecional de medidas de estímulo e de flexibilização para mitigar o impacto do coronavírus (Covid-19) na economia cabo-verdiana, de acordo com a mesma fonte.
Ao fazer o anúncio, o governador do BCV, João Serra, explicou que se trata de uma linha de financiamento, de longo prazo, “com condições especiais de financiamento, à taxa de juro de 0,75 por cento”, suscetível de chegar aos 45 mil milhões de escudos (400 milhões de euros), em função da dívida pública detida por cada banco, com maturidade igual ou superior ao prazo do crédito concedido.
“Esta linha de financiamento tem como colateral os títulos de dívida pública (Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro), devendo ser acionada até dezembro do corrente ano de 2020, à razão de um total de cinco milhões de contos/mês (44,5 milhões de euros)”, explicou.
Entre as medidas anunciadas por João Serra, o destaque vai também para a decisão tomada pelo Banco Central cabo-verdiano de cortar a taxa de juro diretora em 125 pontos, para 0,25 por cento, face aos atuais 1,50 por cento, com o propósito de “provocar uma reação mais rápida e profunda nas ações de resposta da banca."
Outro estímulo é a diminuição da taxa das facilidades permanentes de cedência de liquidez em 250 pontos base, ou seja, de três por cento para 0,5 por cento, visando, por um lado, a manutenção do fator “confiança” nos mercados, ao sinalizar à banca uma total disposição do BCV a ceder fundos em casos de stress ou escassez de liquidez.
Segundo o governador do BCV, a medida visa, por outro lado, a redução das taxas ativas do mercado bancário, tornando mais barato o custo do crédito e contribuindo assim para a libertação de fundos por parte das empresas e famílias, ao determinar prestações mais reduzidas e, por conseguinte, um aumento do seu rendimento disponível.
João Serra anunciou também a criação de um novo instrumento de cedência de liquidez a longo prazo, denominado Operação Monetária de Financiamento a Longo Prazo (OMF), para o financiamento na banca de prazos que podem ir até aos três anos e o estabelecimento de uma taxa de juro atrativa, de 0,75 por cento, para a linha de financiamento a prazo alargado, por meio da Operação Monetária de Financiamento de Longo Prazo.
Trata-se de “medidas de intervenção robusta” face à crise provocada pela pandemia de Covid-19, descreve o Banco Central, sublinhando que “todas as medidas que possam mitigar os efeitos devastadores da pandemia “devem ser equacionadas, de modo a se atenuar as consequências nefastas para a sociedade.”
O BCV alerta que enquanto pequena economia aberta, com escassos recursos e fraca capacidade produtiva, altamente dependente do exterior, certamente não ficará imune à perspetiva de uma crise económica, em especial dos seus principais parceiros internacionais.
A pandemia terá impacto direto e incalculável na economia cabo-verdiana e, consequentemente, no seu sistema financeiro, com reflexos na vida das famílias, empresas e populações”, acrescentou.
O BCV entende que o acesso ao crédito por parte dos bancos comerciais, em condições favoráveis, poderá ajudar na mitigação das dificuldades das famílias e empresas, se também atribuírem créditos a taxas muito baixas.
A atual conjuntura clama por uma intervenção robusta da política monetária, num contexto em que a variância dos riscos se elevou consideravelmente, acrescentou.
-0- PANA CS/DD 27março2020