Banco central aponta para queda de 15 por cento do PIB de Cabo Verde
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Banco de Cabo Verde (BCV) aponta para uma queda de 15 por cento no Produto Interno Bruto (PIB), contabilizado até a setembro último, apurou a PANA de fonte segura.
Num comunicado final, divulgado segunda-feira, duma reunião ordinária ocorrida a 12 de fevereiro corrente, o Comité de Política Monetária (CPM) do BCV anotou que a economia cabo-verdiana teve, em 2020, a "pior performance" da história recente do país, devido às consequências da pandemia da covid-19 (coronavírus),
O Comité decidiu propor ao Conselho de Administração da instituição a "manutenção da atual orientação da política monetária."
"Refletindo o impacto das medidas de contenção da propagação da covid-19, a economia de Cabo Verde terá registado a pior performance da sua história recente", admitiu o BCV, no comunicado assinado pelo seu novo governador, Óscar Santos, empossado em janeiro último.
O documento concluiu que a queda, em volume, de 15 por cento no PIB cabo-verdiano em três trimestres de 2020, é explicada "especialmente em função dos desempenhos fortemente negativos dos ramos de transportes, do alojamento e da restauração, do comércio, da imobiliária e de outros serviços", do lado da oferta.
Já do lado da procura, prosseguiu a nota, o desempenho foi determinado pelos contributos negativos das exportações líquidas e das despesas de consumo final.
Ainda assim, as perspetivas são ligeiramente positivas, segundo o BCV.
"Para o quarto trimestre, os indicadores de tendência da atividade económica disponíveis indiciam uma modesta recuperação da procura agregada face ao terceiro trimestre", lê-se na nota.
Na avaliação e recomendação efetuada, de manutenção da orientação da política monetária, com estímulos aos bancos, o CPM referiu ter levado em consideração os recentes desenvolvimentos macroeconómicos, bem como os efeitos das medidas monetárias e financeiras adotadas, desde abril de 2020, para atenuar o impacto da crise sanitária global.
O BCV admitiu em novembro último que a recessão esperada para 2020 será mais profunda, podendo atingir uma contração de 11 por do PIB, devido aos riscos que a economia cabo-verdiana ainda enfrenta com a pandemia de covid-19.
Nas previsões do Relatório de Política Monetária divulgado na altura, o BCV apontava ainda para uma recuperação económica mais modesta em 2021, que pode ser de apenas três por cento do PIB, em função dos mesmos riscos, sobretudo no atraso da retoma do turismo no arquipélago, ainda condicionada pela pandemia da covid-19.
Na estimativa divulgada em novembro último, o BCV apontava para, no cenário base, uma recessão de 8,1 por cento, que pode chegar aos 10,9 por cento do PIB no cenário mais adverso, enquanto, para 2021, o crescimento poderá oscilar entre 3,0 e 5,1 por cento.
O documento revela igualmente que o estoque das Reservas Internacionais Líquidas (RIL) do país, em divisas, necessárias para garantir importações de bens e serviços, caiu cerca de 77 milhões de euros em 2020, como resultado do aumento expressivo do défice da balança corrente.
O BCV atribui esta queda às consequências da pandemia da covid-19, mas assegura que as RIL ainda garantem quase oito meses de importações de bens e serviços.
O BCV reconhece, embora sem quantificar o valor atual destas reservas e que, em novembro de 2020, rondavam os 602 milhões de euros que, para este desempenho "contribuíram, principalmente, a redução das reexportações de combustíveis e dos víveres nos portos e aeroportos internacionais, bem como das receitas de viagens e serviços de transporte aéreo".
O BCV acrescenta que o estoque destas reservas oficiais garantia, em 31 de dezembro de 2020, o equivalente a 7,9 meses de importações de bens e serviços estimadas para aquele ano.
Um relatório anterior do BCV antevia que a queda das importações e dos rendimentos de investimento expatriados, aliada ao aumento das remessas dos emigrantes, seria insuficiente para compensar a expressiva contração das exportações de bens e serviços.
O apoio orçamental ao Estado de Cabo Verde deverá, contudo, financiar as necessidades da economia e limitar a diminuição do estoque das reservas internacionais líquidas do país a cerca de 25-30 milhões de euros, apontava o BCV no relatório de Política Monetária, divulgado em novembro último.
O mesmo relatório projetava para 2021 uma melhoria ligeira da balança corrente, com a recuperação da procura externa, que pela via do turismo continua a não acontecer, devido à pandemia da covid-19, e, entretanto, uma redução importante dos passivos geradores deadívida pública.
Neste quadro, segundo a estimativa do BCV para este ano, o estoque das RIL cabo-verdiana deverá registar uma queda de pelo menos 30 milhões de euros.
-0- PANA CS/DD 15fev2021