Agência Panafricana de Notícias

400 jovens cabo-verdianos ameaçados de deportação nos Estados Unidos

Praia, Cabo Vere (PANA) – Quase 400 jovens cabo-verdianos devem ser deportados nos próximos tempos dos Estados Unidos por infrações como falta de documentos, agressão, venda de droga ou outros tipos de delinquência, apurou a PANA de fonte bem informada.

Esta informação, revelada pelo site cabo-verdiano nos Estados Unidos “Onda Kriolo” e rotamada pela imprensa local, dá conta que a maioria dos jovens ameaçados de expulsão reside nos Estados de Massachusetts e Rhode Island, onde reside a maioria dos cidadãos originários do arquipélago.

“Alguns estão presos, mas depois de cumprirem as penas devem ser repatriados”, escreve o site “Onda Kriolo”, recordando que a Lei de Imigração norte-americana estabelece que qualquer imigrante ilegal sentenciado a um ou mais anos de cadeia está sujeito a repatriamento.

O site indica que boa parte desses jovens chegou aos Estados Unidos ainda criança, alguns sequer falam crioulo cabo-verdiano e a maioria não possui qualificação para exercer qualquer atividade laboral em Cabo Verde.

“Não existem estatísticas exatas, mas em Cabo Verde devem estar mais de mil jovens que numa determinada altura foram deportados dos Estados Unidos”, escreve periódico.

O jornal considera que “o mais grave é que em Cabo Verde estes jovens não têm amigos nem familiares, e a sociedade os trata com desprezo”.

Isto porque eles “são vistos como pessoas que desperdiçaram a chance de melhorar sua vida num país de oportunidades. São identificados como ´thugs` ou delinquentes, e poucos empregadores arriscam a dar-lhes trabalho, numa terra onde o desemprego atinge pelo menos um terço da juventude”.

Isto faz com que muitos dos jovens deportados não resistam à tentação de entrar para os gangs e no mundo do crime como forma de se adaptar e de sobrevivência nesse contexto de desemprego, pobreza e marginalidade.

Escreve o site que estes jovens que cometeram crimes nos Estados Unidos também são vítimas do sistema americano de imigração, que os deporta indiscriminadamente, sem lhes dar a possibilidade de reabilitação.

Também são vítima de um sistema social e familiar direcionado mais para o ter do que ser”, acrescenta.

O site recorda que esses jovens chegaram aos EUA, acompanhados dos familiares na década de 80. Os seus pais possuem pouca escolaridade e vivem em cidades violentas, como Dorchester, Brockton ou Providence.

“Na busca de uma vida melhor, relegaram a educação dos filhos para segundo plano”, precisa.

De acordo com dados divulgados em junho passado, grande parte dos 1300 indivíduos deportados de países estrangeiros para Cabo Verde veio dos EUA.

A ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes, que esteve nos EUA de 02 a 05 de junho, adiantou que durante o encontro com a comunidade radicada naquele país constatou que um dos principais constrangimentos está relacionado com a “má integração” dos jovens que partem de Cabo Verde.

“O número de deportação tem estado a diminuir, mas não quer dizer que o problema deixou de existir”, disse Fernanda Fernandes, salientando que muitos desses adolescentes são deportados porque não foram bem encaminhados ou não tiverem um suporte familiar.

A ministra revelou que na origem das deportações estão várias causas, nomeadamente a ilegalidade documental, criminalidade, agressões, indicando que existe um contingente de casos pendentes que podem ser ou não repatriados e outros com pena acessória de expulsão, ou seja após cumprir a pena.

Ela explicou que o Governo tem apostado na prevenção, através de sessões de esclarecimentos nas escolas, municípios sobretudo aqueles onde há mais pessoas a partir para os EUA, nomeadamente Fogo e Brava, com informações sobre as vantagens e as desvantagens da emigração.

“Por outro lado, estamos a trabalhar também com o consulado de Boston, e organizações da sociedade civil norte-americanas, no sentido de ajudarem aqueles que chegam aos EUA, com informações sobre como funciona a sociedade americana, quais são as normas, regras, leis, para que saibam de fato como agir e comportar-se”, acrescentou.

-0- PANA CS/IZ 17ago2015