Agência Panafricana de Notícias

162 pessoas julgadas por massacres de Jos na Nigéria

Lagos- Nigéria (PANA) -- Pelo menos 162 pessoas vão ser processadas judicialmente pela sua implicação nos massacres de Jos, capital do Estado de Plateau, no centro da Nigéria, que fizeram cerca de 300 vítimas entre a população civil a 7 de Março último, anunciou a Polícia.
Quarenta e uma pessoas serão processadas por terrorismo e homicídio e 121 por posse ilegal de armas de fogo, indicou a Polícia que concluiu o seu inquérito, segundo um comunicado publicado domingo.
Um outro grupo de 213 pessoas foram antes inculpados diante dum tribunal por diversos delitos ligados aos massacres de 17 de Janeiro de 2010 igualmente em Jos.
Enquanto o Governo do Estado estima o balanço das violências de 7 de Março em mais de 500 mortos, a Polícia, por seu lado, aponta para 109 pessoas mortas.
A violência recorrente em Jos foi atribuída a uma feroz rivalidade em redor das terras férteis entre a população autóctone, de maioria cristã, e a de predominância muçulmana que veio instalar-se na cidade.
Várias vozes instaram o Governo federal a actuar firmemente contra os autores destes massacres como meio de dissuasão.
A onda de violência em Jos está também na origem duma crise diplomática entre entre a Nigéria e a Líbia depois deste último sugerir a divisão do primeiro em dois Estados (muçulmano e cristão) como forma de pôr fim às confrontações.
Na sequência desta proposta contida em declarações feitas pelo líder líbio, Muamar Kadafi, perante um fórum de estudantes universitários africanos, a Nigéria ordenou, a 18 de Março de 2010, a retirada do seu embaixador na Líbia.
O Ministério nigeriano dos Negócios Estrangeiros indicou, num comunicado, que o embaixador na Líbia foi convocado para consultas por causa do "discurso irresponsável do coronel Kadafi".
Kadafi tinha sugerido alguns dias antes que a Nigéria fosse dividida em dois Estados independentes, numa separação que obedecesse à configuração religiosa do país em termos da distribuição geográfica da população para impedir, de uma vez por todas, os conflitos violentos entre grupos rivais.
Muitas vozes consideram que, embora a violência na Nigéria ocorra geralmente entre muçulmanos predominantes no norte e cristãos predominantes no sul, ela tem também causas políticas, económicas e sociais.
Porém, Kadafi, que até recentemente assumiu a presidência rotativa da União Africana (UA), sustentou que o fim das confrontações na Nigéria passava pela adopção do modelo implementado em 1947 no império britânico do subcontinente indiano com a criação do Paquistão para os muçulmanos e da Índia para os hindus, por iniciativa de Mohamed Ali Jinah.
"A única solução à situação dramática que decorre na Nigéria é o aparecimento de um novo Mohamed Ali Jinah, como o que aconteceu em 1947 ao subcontinente indiano com a criação de dois Estados (Índia e Paquistão), declarou Kadafi em Tripoli diante de líderes estudantis africanos incluindo nigerianos.
Para ele, a Nigéria devia seguir o mesmo exemplo pela instauração de um Estado cristão no sul que teria Lagos como capital e um outro muçulmano no norte que ficaria sediado em Abuja.
"Nada vai parar as efusões de sangue, os incêndios das casas de Deus quer se tratem de mesquitas quer de igrejas na Nigéria", realçou Kadafi propondo, a este propósito, que o antigo Presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, desempenhasse o papel de "Mohamed Ali Jinah", no sul, para "dirigir e salvar os cristãos e as igrejas dos massacres e dos incêndios".
Um tal protagonismo de Obasanjo, disse, daria ao norte a oportunidade de fazer aparecer um outro "Mohamed Ali Jinah" para criar o seu Estado e "salvar os muçulmanos e as mesquitas contra os massacres e os incêndios".
Mohamed Ali Jinah foi um defensor dos direitos da minoria islâmica que se bateu pela constituição daqueles dois Estados independentes a partir dos territórios de maioria hindu (Índia) e dos de maioria muçulmana (Paquistão).
Kadafi insistiu que as raízes da "situação dramática" nigeriana parecem-se totalmente às da crise do subcontinente indiano antes de 1947, marcada por "massacres entre hindus e muçulmanos que só terminaram com a iniciativa de Mohamed Ali Janah de criar um Estado muçulmano que ele baptizou Paquistão e um outro para os hindus, a Índia actual".
"Esta solução foi dolorosa, mas constituiu uma solução radical e histórica sem a qual milhões de hindus e muçulmanos teriam continuado a morrer no subcontinente indiano", disse.
Segundo alguns dados disponíveis, cerca de 200 mil pessoas teriam morrido nesta partilha da Índia, enquanto outras estimativas colocam o número de mortos em um milhão e o de pessoas desabrigadas em 12 milhões, para além de inúmeras famílias divididas.
Uma tentativa de secessão do sudeste nigeriano, em 1967, deflagrou uma guerra que matou mais de um milhão de pessoas.