Agência Panafricana de Notícias

África intensifica preparativos para negociações sobre mudanças climáticas em Doha

Addis Abeba, Etiópia (PANA) – África vai promover a sua posição para atingir os resultados esperados sobre questões tais como os financiamentos e a adaptação no quadro da próxima ronda de negociações das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas em Doha, no Qatar, em novembro deste ano.

Neste contexto, uma segunda Conferência sobre as Mudanças Climáticas e o Desenvolvimento em África (CCDA-II), decorreu na capital etíope, Addis Abeba.

Esta conferência, conjuntamente organizada pela Comissão da União Africana, pela Comissão Económica para África (CEA) e pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), instou os países africanos a intensificarem os seus preparativos para garantir o acesso, o desdobramento e a obtenção de financiamentos do Fundo Verde para o Clima (GCF) e outras fontes.

Segundo Seleshi Bekele, conselheiro principal sobre mudanças climáticas e a água no Centro Africano para a Política Climática (CAPC), a conferência convidou igualmente os países desenvolvidos a elevar o nível de ambição para fixar um preço justo do carbono que, por sua vez, vai incentivar o investimento nas atividades de limitação.

Bekele, que preside igualmente à CCDA-II, disse que as recomendações da conferência incluiam igualmente o apelo a países desenvolvidos para assumirem novos compromissos financeiros para com os mecanismos estabelecidos como o GCF.

A conferência de dois dias que findou sábado convidou igualmente os negociadores, os profissionais e os pesquisadores a intensificarem os esforços para reforçar o papel da ciência nas negociações, reconhecendo ao mesmo tempo que o processo não podia ser inteiramente baseado na ciência.

O primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn, que abriu os debates, insistiu na necessidade de África pressionar para a intensificação dos esforços nacionais e internacionais, em particular os relativos à adaptação, à limitação, ao financiamento, ao desenvolvimento e à transferência tecnológica.

As questões importantes para África em Doha são os desenvolvimentos relativos ao estabelecimento do Fundo Verde para o Clima e a adoção do seu instrumento de governo; a criação de instituições para a adaptação e o desenvolvimento e a transferência das tecnologias de adaptação e de limitação.

De uma maior importância é ainda o acordo relativo ao segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto e o relativo à elaboração dum novo instrumento jurídico, ou seja, um protocolo ou instrumento juridicamente vinculativo, no quadro da convenção aplicável a todas às partes para o período pós-2020.

Todavia, o primeiro-ministro Desalegn disse-se desapontado pela ausência de vontade política dos países desenvolvidos para o cumprimento dos compromissos financeiros a curto prazo assumidos durante a Conferência sobre o Clima em Copenhague, sustentando que existe um risco real de o Fundo Verde para o Clima ser apenas uma ilusão.

"Não é de mais insistir no facto de que os financiamentos necessários para agir sobre o clima em África devem ser elevados e reais. É uma necessidade urgente. Os países africanos estão moral e legalmente no direito de os reclamar", disse durante uma conferência de imprensa na capital etíope.

O primeiro-ministro etíope indicou que, mesmo com a vontade política de África, o continente continuaria a enfrentar sérias dificuldades, devido à reticência dos maiores atores internacionais a aceitar os pontos mais simples e menos controversos que poderiam ajudar a encontrar uma solução mutuamente vantajosa para toda a humanidade.

"África deve continuar a apresentar uma frente unida sobre esta questão. Ela deve continuar a trabalhar para o bom êxito deste projeto, por tão lentos ou frustradores que possam parecer os progressos. O nosso esforço coletivo oferece uma verdadeira chance de virar a página e fazer verdadeiros progressos na 18ª Conferência das Partes na Convenção Quadro sobre as Mudanças Climática que vai decorrer em Doha, no próximo mês. Temos de aproveitar a ocasião", disse Desalegn.

Por sua vez, Carlos Lopes, secretário-geral adjunto das Nações Unidas e secretário executivo da CEA, disse que a CCDA-II era uma oportunidade para a parte africana debater antes da Conferência de Doha.

Relativamente à adaptação à mudança climática, Lopes disse que era preciso agir com urgência e que os desafios da limitação e da adaptação eram enormes.

Ressaltou que a pesquisa científica sobre o clima em África não é bem coordenada e que é geralmente efetuada de modo informal.

A conferência decorreu sob o lema "Promover o conhecimento, as políticas e práticas em matéria de mudanças climáticas e desenvolvimento", concentrando-se em três áreas principais, designadamente os serviços climatológicos para o desenvolvimento; o acesso sustentável à energia para todos os Africanos até 2030; e os pontos de desacordo das negociações sobre o clima.

-0- PANA MM/SEG/FJG/TBM/IBA/CJB/DD/IZ 23out2012