Agricultura continua a ser o pilar da economia de África, diz comissária
Puglia, Itália (PANA) - A agricultura continua a ser o pilar da economia africana, representando 17,2 por cento do produto interno bruto do continente, assegurou em Puglia, Itália, uma comissária da União Africana, Josefa Correia Sacko.
Chefe do Departamento da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável da UA, a diplomata angolana avançou estes dados durante um encontro da cúpula do G7 (grupo dos paises mais industrializados do mundo), designadamente (França, Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido, Itália, Alemanha).
Frisou, nessa ocasião, referiu que este setor consome 52 por cento do total do emprego global do continente e 75 por cento do seu comércio interno.
Agricultura de África tem um enorme potencial por possuir os ingredientes naturais necessários para aumentar consideravelmente a produção agrícola, a julgar por cerca de 600.000.000 de hectares de terra arável não cultivada, incluindo perto de 65 por cento de terra arável disponível no mundo.
Também tem uma abundância de água doce, bem como uma mão de obra jovem e crescente, juntamente com um aumento da urbanização e grandes mercados regionais, especialmente com a assinatura da Zona de Livre Comércio Continental (ZLECA, siglça em francês), de acordo com a comissária.
Frisou que, desde 2000, a África Subsariana registou também uma taxa de crescimento agrícola mais elevada de todas as regiões do mundo, e que, apesar deste imenso potencial e do desempenho recente, o continente não tem sido capaz de transformar as vantagens deste setor num fulcro de desenvolvimento devido a problemas multifacetados.
“Ainda se assite a dificuldades em adquirir terras aráveis para a agricultura em grande escala devido a direitos legais mal definidos, infraestruturas deficientes, especialmente em termos de estradas e eletricidade, que tornam empresas agroindustriais pouco rentáveis e pouco competitivas”, lamentou Josefa Sacko.
Agricultura africana continua a ser predominantemente de sequeiro e liderada por pequenos agricultores com baixa produtividade, e aproximadamente 80 por cento das terras agrícolas na África Subsariana são ocupadas por pequenos agricultores que fazem culturas de subsistência ou duas culturas de rendimento em pequenas parcelas de terra, segundo a diplomata.
Para mudar o quadro atual, acrescentou, a UA concebeu uma nova estratégia de implusionar a agricultura, que consiste num programa de 10 anos com vista a modernizar o setor e aumentar a resiliência, cujo plano será apresentado em 2025 pelos chefes de Estado e de Governo africanos, na sua cimeira extraordinária em Kampala, no Uganda.
“Gostaríamos muito que o G7 apoiasse este plano, para além do apoio governamental. África está pronta para o negócio, e estamos a convidar investidores privados dos paises mais industrializados do mundo a virem investir na agricultura africana, especialmente no agronegócio, que deverá atingir 1.000.000.000 dólares (americanos) até 2030”, frisou.
Afirmou que a qualidade da cooperação atual com G7 é boa, reconhecendo que esta pode ser melhorada, pois, frisou “é necessário estabelecer diálogos sérios e dedicados a montante com os países africanos e com organizações africanas”, como a Organização Africana de Cooperação e Desenvolvimento Económico, a fim de identificar e co-desenhar programas e projetos conjuntos.
“Por exemplo, no caso da Alemanha, estamos a trabalhar muito bem , para revermos as nossas políticas agrícolas. Queremos esse tipo de apoio de outros países do G7, especialmente para mitigar o impacto das alterações climáticas nos agricultores africanos”, desejou.
Josefa Sacko mencionou igualmente um plano denominado “Plano Mattei”, lançado em 2023 pelo Governo italiano, cujo objetivo é ajudar os países africanos a desenvolverem a sua própria agricultura, de modo a serem autossuficientes em termos de alimentos e evitarem a migração.
“De um ponto de vista prático, o Governo italiano está a ajudar as empresas italianas a investirem em África. Por exemplo, o grupo BF assinou um acordo com o Governo argelino para arrendar 36.000 hectares de terras para serem cultivados em parceria com empresas locais”, regozijou-se.
Será igualmente importante, a seu ver, utilizar-se o “Plano Mattei” para atrair investimentos público e privado nos grandes programas africanos, como o Programa Global de Desenvolvimento Agrícola em África, o Programa de Desenvolvimento de Infraestruturas em África e a ZLECA.
O plano dispõe de um financiamento inicial de 5.500.000.000 de euros em subvenções, créditos ou garantias.
O mesmo consistiu inicialmente em nove projetos-piloto na Argélia, na República Democrática do Congo, no Egito, na Etiópia, na Côte d'Ivoire, no Quénia, em Marrocos, em Moçambique e na Tunísia, centrando-se em cinco pilares fundamentais, designadamente a educação, a formação, a agricultura, a saúde, a energia e a água.
-0- PANA JF/DD 30setembro2024