Fome e medo da fome afetam 800.000 pessoas bloqueadas no oeste do Sudão, diz OMS
Genebra, Suíça (PANA) - A fome e o medo da fome afetam 800.000 pessoas ainda bloqueadas em El Fasher, a capital de Darfur-Norte (oeste do Sudão), sem alimentos suficientes, nem água muito menos assistência médica, alertou esta terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em declaração à imprensa, o representante da OMS no Sudão, Shible Sahbani, indicou que violentos combates entre os dois exércitos rivais no país tornaram “totalmente impossível” o acesso a El Fasher, embora ambos estejam a fazer negociações sobre o fim das hostilidades em Genebra.
O último aviso referente à situação de emergência no Sudão intervém 15 meses depois da eclosão de um conflito intenso entre os dois beligerantes, resultante de uma proposta de transição para um regime civil, na sequência de um golpe de Estado militar, em 2021, e do derrube, dois anos antes do então chefe do Estado, Omar Al-Bashir que estava no poder há 30 anos.
“Os Estados de Darfur, de Kordofan (suoeste), de Cartum (capital do país) e de Al Jazira (sul) estão praticamente privados da ajuda humanitária e sanitária devido a combates contínuos”, declarou.
Reiterou que a situação de Darfur é particularmente alarmante, nomeadamente em El Fasher, onde feridos não poder receber cuidados de emergência de que tanto necessitam.
Crianças, mulheres grávidas e lactantes estão enfraquecidas por uma fome aguda, acrescentou.
Indicou ainda que grande parte do Sudão foi afetada por combates que se propagaram a Cartum, bem como a outras regiões, como Darfur.
Apelou aos beligerantes para garantirem a proteção dos civis, de equipas de ajuda humanitária e de infraestruturas públicas, incluindo hospitais, em conformidade com o direito internacional.
O representante da OMS insistiu no facto de que "o acesso é para já necessário para que possamos evitar uma situação sanitária desastrosa."
"Neste preciso momento, sete camiões deixam Kordofan em direção a Darfur. Ontém, obtivemos a autorização de os canalizar para Darfur", deu a conhecer Sahbani, regozijando-se no entanto com “bons sinais” no tocante às operações de ajuda transfronteiriça por parte de “todos os intervenientes".
Segundo ele, isto não basta, mais uma vez, “porque devemos tratar estes casos numa base ad hoc.”
Precisa-se de mais advocacia no país com diferentes beligerantes, e precisa-se igualmente de advocacia com grandes países, aqueles que tenham uma certa influência sobre a situaçã, deu a conhecer.
Mencionou também que, durante uma missão de avaliação no Tchad vizinho, na semana finda, refugiados desesperados lhe tinham dito que “a principal razão pela qual abandonamos o Sudão é a fome, mas não a insegurança, nem a falta de acesso aos serviços de base. Não há nada para comermos lá.”
Declarou-se ainda chocado quando uma mulher fugitiva de Darfur, chegada a Adré, logo depois da fronteira com o Tchad, disse-lhe que “tudo que utilizávamos para produzirmos alimentos localmente e comermos foi tomado pelos combatentes.”
Disse que a coitada caminhou três dias com seus filhos para se abrigarem, sem mantimentos, durante a viagem toda.
Como se não bastasse, a resposta humanitária no Sudão só é financiada a 26 por cento, lamentou Sahbani, descrevendo a situação emergencial como sendo “uma das piores no mundo.”
“Se não obtivermos um cessar-fogo, podemos pelo menos obter a proteção dos civis e a abertura de corredores humanitários”, presumiu Sahbani.
O acesso humanitário e a proteção dos civis figuram entre os principais pontos discutidos durante as negociações iniciadas na semana finda em Genebra, sob a égide do enviado especial do Secretário-Geral das Nações Unidas no Sudão, Ramtane Lamamra, entre os representantes das Forças Armadas Sudanesas e das Forças Paramilitares de Apoio Rápido, ambas dirigidas respetivamente pelos generais Abdel Fattah Al-Burhan e Mohamed Hamdam Dagalo.
-0- PANA MA/MTA/IS/DD 16julho2024