Desigualdades ameaçam desenvolvimento humano, alerta ONU
Nova Iorque, Estados Unidos (PANA) - Apesar do progresso global na luta contra a pobreza, a fome e as doenças, uma "nova geração de desigualdades" indica que muitas sociedades não estão a funcionar como deveriam, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
No seu último Relatório sobre o Desenvolvimento Humano (RDH) de 2019, publicado segunda-feira, o PNUD destaca que, tal como o fosso nos padrões básicos de vida está a diminuir para milhões de pessoas, as desigualdades em torno da educação, da tecnologia e das mudanças climáticas têm provocado manifestações em todo o Mundo.
Se não forem controladas, podem desencadear uma "nova grande divergência" na sociedade, nunca vista desde a revolução industrial, segundo o relatório.
"Este relatório sobre o desenvolvimento humano explica como as desigualdades sistémicas afetam profundamente a nossa sociedade e porquê", explicou Achim Steiner, administrador do PNUD, acrescentando que "existem soluções para a desigualdade".
No entender de Steiner, a desigualdade não se resume apenas ao quanto um indivíduo ganha em comparação com o seu vizinho, mas é a distribuição desigual da riqueza e do poder, pelo que reconhecer a verdadeira face da desigualdade é o primeiro passo, antes da escolha que todo o líder deve fazer.
Num comunicado, o PNUD indica que a abordagem do desenvolvimento humano considera que a "riqueza" vai além da ideia de que o crescimento económico levará automaticamente ao desenvolvimento e ao bem-estar, e centra-se nas pessoas, nas suas oportunidades e suas escolhas.
A pesquisa do PNUD mostra que, em 2018, cerca de 20 por cento do progresso do desenvolvimento humano foi perdido devido à distribuição desigual de educação, de saúde e de padrões de vida.
O comunicado afirma que o relatório recomenda uma reformulação das políticas nas áreas da educação, da produtividade e da despesa pública.
Uma vez que as desigualdades começam antes do nascimento e podem acumular-se na idade adulta, é essencial investir na educação, na saúde e na nutrição das crianças pequenas. Estes investimentos devem prosseguir ao longo de todo o ciclo de vida, uma vez que têm um impacto nos rendimentos e na produtividade no mercado de trabalho.
O PNUD tem observado que os países com força de trabalho mais produtiva tendem a ter uma menor concentração de riqueza no topo, o que é permitido por políticas que apoiam sindicatos mais fortes, o direito a um salário mínimo, uma proteção social e mais mulheres a deslocar-se para o local de trabalho.
O relatório salienta igualmente o papel da fiscalidade, que não pode ser analisada isoladamente. Pelo contrário, uma tributação justa deve apoiar políticas que incluam o aumento da despesa pública com a saúde, a educação e alternativas energéticas mais ecológicas.
Como destacou o presidente do PNUD, "diferentes gatilhos levam as pessoas às ruas, incluindo o custo de um bilhete de trem, o preço da gasolina, demandas por liberdades políticas, e a busca de equidade e justiça". Esta é a nova face da desigualdade".
Virado para o futuro, o relatório questiona como é que as desigualdades poderão ser vistas dentro de alguns anos, particularmente no que diz respeito às "duas mudanças sísmicas" que irão moldar o próximo século.
Trata-se da crise climática e dos avanços tecnológicos de transformação que incluem as energias renováveis e a eficiência energética, as finanças digitais e as soluções de saúde digital.
O relatório apela para que as oportunidades sejam "aproveitadas rapidamente e amplamente partilhadas".
-0- PANA MA/AKA/IS/CJB/IZ 10dez2019