PANAPRESS
Agência Panafricana de Notícias
Royal Air Maroc entre os "carrascos" da imprensa durante cimeira de Malabo
Dakar, Senegal (PANA) – Do excesso de zelo à ignorância ou défice de cultura geral da parte de alguns funcionários públicos ou paraestatais em África chega-se, às vezes, a confundir comportamentos pessoais de indivíduos com orientações políticas de Estados.
Se bem que, nalguns casos, a postura grosseira de certos agentes públicos ou paraestatais para com aqueles que legitimamente buscam os seus serviços pode refletir particularidades da sociedade ou do regime vigente nos países que representam, nem sempre porém esta proposição é verdadeira.
Os jornalistas que conseguiram deslocar-se à capital equato-guineense, Malabo, para cobrir mais uma cimeira da União Africana (UA) que o país organizava pela primeira vez da sua história, ficaram surpresos pela positiva, uma vez chegados à terra de Obiang Nguema Mbasogo.
Surpresos porque o acolhimento exemplar encontrado logo à chegada, no Aeroporto de Malabo, e a organização impecável da cimeira, que acabou por estar entre as melhores na história da UA, não estavam nas suas expetativas, depois dos calvários que lhes foram impostos, à partida, por certos funcionários consulares do país organizador e pelos caprichos de algumas companhias aéreas.
É que, incompreensivelmente, alguns postos consulares da Guiné Equatorial pura e simplesmente negaram o visto de entrada aos jornalistas que pretendiam viajar para Malabo, obrigando-os ou mesmo convidando-os a dirigirem-se diretamente às autoridades do Governo central.
E quase invariavelmente, os tais contactos diretos com as autoridades centrais do país encorajavam os interessados a “contornar” os serviços consulares, devido ao pouco tempo que restava, para encontrarem os vistos de entrada à sua chegada, no Aeroporto de Malabo.
Mas isso sem contar com uma outra “pedra no sapato” colocada pelos agentes de companhias aéreas, pretensamente apostados em “mostrar trabalho”, mas sem nenhuma preocupação com a qualidade do tal trabalho, chegando mesmo a atitudes reveladoras de falta de educação e instrução.
A título de exemplo, a Panapress esteve entre as vítimas desses excessos de zelo e caprichos que tinham tudo para manchar a imagem do país organizador e das companhias aéreas em geral que, em princípio, também têm obrigações para com os seus passageiros em vez de serem seus “carrascos”.
Munido de um passaporte de serviço e um visto de cortesia concedido pela Embaixada de Marrocos no Senegal para transitar por Casablanca em direção a Malabo, entre outra documentação, o jornalista designado pela Panapress para cobrir a cimeira da UA viu a sua viagem anulada pela transportadora Royal Air Maroc (RAM), alegadamente por falta de visto para a Guiné Equatorial.
Mesmo exibindo cópias de correspondências da UA a confirmar a sua acreditação para cobrir o evento e da qual constava, expressa e explicitamente, a informação de que os jornalistas tinham direito a visto no Aeroporto de Malabo, o repórter da Panapress, uma agência noticiosa de âmbito continental com sede em Dakar, não conseguiu convencer a RAM a embarcá-lo.
A sua tentativa desesperada de recorrer ao chefe de Escala da RAM no Aeroporto Internacional “Léopold Sédar Senghor” de Dakar também de nada valeu. Pelo contrário, só permitiu testemunhar o cúmulo da arrogância e da indiferença de um homem que nem sequer se dignou ler a documentação que o seu interlocutor, aflito, tentava mostrar-lhe.
Aparentemente enervado ante a insistência do repórter, levantou-se da sua cadeira, fechou o seu gabinete e meteu-se a andar, depois de sentenciar que a decisão do seu pessoal inferior era final e irrecorrível e que documentos transmitidos por correio eletrônico não tinham nenhum valor oficial.
Mas curiosamente, e com a mesmíssima documentação, o mesmo repórter embarcou facilmente, sem incómodo algum, a partir do mesmo aeroporto e para o mesmo destino final, através da cada vez mais convincente Kenya Airways, ainda que sem nenhum visto de entrada no Quénia, que passou a ser o seu novo ponto de trânsito de e para Malabo.
À primeira vista, qualquer indivíduo na condição de vítima em situações similares podia ser tentado a suspeitar que a insensibilidade e a indiferença demonstradas pelo pessoal da RAM refletiam a política do Estado marroquino, uma vez se tratando da sua transportadora nacional de bandeira.
Mas, desta vez, não havia lugar para tais suspeições, porquanto a representação diplomática marroquina em Dakar já havia dado “luz verde” à viagem do mesmo jornalista, ao conceder-lhe o visto de cortesia em tempo recorde e sem exigências especiais, aparentemente convencida da importância do evento apresentado pela Panapress como argumento para solicitar o visto.
Só que, paradoxalmente, a Panapress não encontrou a mesma seriedade no Consulado da Guiné Equatorial em Dakar. O facto de este ser o país organizador da cimeira e assegurar, ao mesmo tempo, a presidência rotativa da UA não bastou para convencer o senhor cônsul.
Ele começou por exigir uma autorização superior das autoridades equato-guineenses, quando o tempo já não permitia formalismos exagerados, claramente ultrapassáveis pela magnitude do evento em causa e pela exiguidade do tempo, tal como expresso numa comunicação email transmitida pelas entidades oficiais, a partir de Malabo.
“A fim de facilitar a participação da Imprensa Internacional (na cimeira), e dada a demora do processo de concessão de vistos de entrada no país a esse coletivo, o Governo da Guiné Equatorial (...) autorizou a obtenção dos mesmos (vistos) no aeroporto internacional da capital (Malabo)”, podia ler-se numa nota transmitida por um alto responsável governamental.
Esta comunicação cujo autor identificou-se como secretário de Estado para a Informação e Imprensa da Guiné Equatorial e igualmente presidente do Comité de Imprensa e Mobilização vinha expressamente dirigida às “companhias aéreas com voos para a Guiné Equatorial”.
E a diversidade dos seus destinatários permitiu constatar que a mensagem respondia igualmente a um outro jornalista, da Rádio França Internacional (RFI), que também estaria com as mesmas dificuldades para viajar até Malabo e cobrir os trabalhos da 17ª cimeira ordinária da UA, uma organização que diz lutar pela integração política e económica do continente.
“Comunico-lhe oficialmente que pode perfeitamente vir com a sua equipa a Malabo e obter o visto de entrada no aeroporto desta capital (...) Este correio pode servir-lhe como antecedente oficial para apanhar o avião”, sublinha o autor da mensagem na sua resposta ao jornalista da RFI, que, a partir de Paris, se queixava de ser “muito fastidioso perder tanto tempo com os serviços consulares”.
Na verdade, o chefe de Escala da RAM em Dakar podia, até certo ponto, estar “cheio de razão”, quando considerou que um email não tinha força jurídica bastante mas, claro, se e só se o seu conteúdo não exibir nenhuma forma de autenticação como carimbos, selos oficiais ou assinaturas, entre outros.
Mas custa perceber que o pessoal e o chefe de Escala de uma transportadora aérea nacional de um país africano não conheçam o que quer dizer “cimeira da União Africana” e, por conseguinte, desconheçam a velha prática de os países africanos que organizam grandes eventos de âmbito continental ou mundial concederem os vistos de entrada a partir do aeroporto de destino.
Por seu turno, quanto aos serviços consulares, também ninguém pode ignorar que existam regras superiormente definidas que eles não podem contornar. Mas aqueles que se mantiveram inflexíveis foram infelizes porque havia exceções oficialmente estabelecidas que chocavam com a sua postura.
O cônsul em Dakar, por exemplo, furtou-se diberadamente a essas exceções, em vez de as promover, e preferiu expor-se com ridículas declarações do tipo: “podem ir por vosso próprio risco e não contem comigo. Não posso fazer viajar
pessoas que depois ficam a escrever à toa sobre o país”.
-0- PANA IZ 08julho2011
Se bem que, nalguns casos, a postura grosseira de certos agentes públicos ou paraestatais para com aqueles que legitimamente buscam os seus serviços pode refletir particularidades da sociedade ou do regime vigente nos países que representam, nem sempre porém esta proposição é verdadeira.
Os jornalistas que conseguiram deslocar-se à capital equato-guineense, Malabo, para cobrir mais uma cimeira da União Africana (UA) que o país organizava pela primeira vez da sua história, ficaram surpresos pela positiva, uma vez chegados à terra de Obiang Nguema Mbasogo.
Surpresos porque o acolhimento exemplar encontrado logo à chegada, no Aeroporto de Malabo, e a organização impecável da cimeira, que acabou por estar entre as melhores na história da UA, não estavam nas suas expetativas, depois dos calvários que lhes foram impostos, à partida, por certos funcionários consulares do país organizador e pelos caprichos de algumas companhias aéreas.
É que, incompreensivelmente, alguns postos consulares da Guiné Equatorial pura e simplesmente negaram o visto de entrada aos jornalistas que pretendiam viajar para Malabo, obrigando-os ou mesmo convidando-os a dirigirem-se diretamente às autoridades do Governo central.
E quase invariavelmente, os tais contactos diretos com as autoridades centrais do país encorajavam os interessados a “contornar” os serviços consulares, devido ao pouco tempo que restava, para encontrarem os vistos de entrada à sua chegada, no Aeroporto de Malabo.
Mas isso sem contar com uma outra “pedra no sapato” colocada pelos agentes de companhias aéreas, pretensamente apostados em “mostrar trabalho”, mas sem nenhuma preocupação com a qualidade do tal trabalho, chegando mesmo a atitudes reveladoras de falta de educação e instrução.
A título de exemplo, a Panapress esteve entre as vítimas desses excessos de zelo e caprichos que tinham tudo para manchar a imagem do país organizador e das companhias aéreas em geral que, em princípio, também têm obrigações para com os seus passageiros em vez de serem seus “carrascos”.
Munido de um passaporte de serviço e um visto de cortesia concedido pela Embaixada de Marrocos no Senegal para transitar por Casablanca em direção a Malabo, entre outra documentação, o jornalista designado pela Panapress para cobrir a cimeira da UA viu a sua viagem anulada pela transportadora Royal Air Maroc (RAM), alegadamente por falta de visto para a Guiné Equatorial.
Mesmo exibindo cópias de correspondências da UA a confirmar a sua acreditação para cobrir o evento e da qual constava, expressa e explicitamente, a informação de que os jornalistas tinham direito a visto no Aeroporto de Malabo, o repórter da Panapress, uma agência noticiosa de âmbito continental com sede em Dakar, não conseguiu convencer a RAM a embarcá-lo.
A sua tentativa desesperada de recorrer ao chefe de Escala da RAM no Aeroporto Internacional “Léopold Sédar Senghor” de Dakar também de nada valeu. Pelo contrário, só permitiu testemunhar o cúmulo da arrogância e da indiferença de um homem que nem sequer se dignou ler a documentação que o seu interlocutor, aflito, tentava mostrar-lhe.
Aparentemente enervado ante a insistência do repórter, levantou-se da sua cadeira, fechou o seu gabinete e meteu-se a andar, depois de sentenciar que a decisão do seu pessoal inferior era final e irrecorrível e que documentos transmitidos por correio eletrônico não tinham nenhum valor oficial.
Mas curiosamente, e com a mesmíssima documentação, o mesmo repórter embarcou facilmente, sem incómodo algum, a partir do mesmo aeroporto e para o mesmo destino final, através da cada vez mais convincente Kenya Airways, ainda que sem nenhum visto de entrada no Quénia, que passou a ser o seu novo ponto de trânsito de e para Malabo.
À primeira vista, qualquer indivíduo na condição de vítima em situações similares podia ser tentado a suspeitar que a insensibilidade e a indiferença demonstradas pelo pessoal da RAM refletiam a política do Estado marroquino, uma vez se tratando da sua transportadora nacional de bandeira.
Mas, desta vez, não havia lugar para tais suspeições, porquanto a representação diplomática marroquina em Dakar já havia dado “luz verde” à viagem do mesmo jornalista, ao conceder-lhe o visto de cortesia em tempo recorde e sem exigências especiais, aparentemente convencida da importância do evento apresentado pela Panapress como argumento para solicitar o visto.
Só que, paradoxalmente, a Panapress não encontrou a mesma seriedade no Consulado da Guiné Equatorial em Dakar. O facto de este ser o país organizador da cimeira e assegurar, ao mesmo tempo, a presidência rotativa da UA não bastou para convencer o senhor cônsul.
Ele começou por exigir uma autorização superior das autoridades equato-guineenses, quando o tempo já não permitia formalismos exagerados, claramente ultrapassáveis pela magnitude do evento em causa e pela exiguidade do tempo, tal como expresso numa comunicação email transmitida pelas entidades oficiais, a partir de Malabo.
“A fim de facilitar a participação da Imprensa Internacional (na cimeira), e dada a demora do processo de concessão de vistos de entrada no país a esse coletivo, o Governo da Guiné Equatorial (...) autorizou a obtenção dos mesmos (vistos) no aeroporto internacional da capital (Malabo)”, podia ler-se numa nota transmitida por um alto responsável governamental.
Esta comunicação cujo autor identificou-se como secretário de Estado para a Informação e Imprensa da Guiné Equatorial e igualmente presidente do Comité de Imprensa e Mobilização vinha expressamente dirigida às “companhias aéreas com voos para a Guiné Equatorial”.
E a diversidade dos seus destinatários permitiu constatar que a mensagem respondia igualmente a um outro jornalista, da Rádio França Internacional (RFI), que também estaria com as mesmas dificuldades para viajar até Malabo e cobrir os trabalhos da 17ª cimeira ordinária da UA, uma organização que diz lutar pela integração política e económica do continente.
“Comunico-lhe oficialmente que pode perfeitamente vir com a sua equipa a Malabo e obter o visto de entrada no aeroporto desta capital (...) Este correio pode servir-lhe como antecedente oficial para apanhar o avião”, sublinha o autor da mensagem na sua resposta ao jornalista da RFI, que, a partir de Paris, se queixava de ser “muito fastidioso perder tanto tempo com os serviços consulares”.
Na verdade, o chefe de Escala da RAM em Dakar podia, até certo ponto, estar “cheio de razão”, quando considerou que um email não tinha força jurídica bastante mas, claro, se e só se o seu conteúdo não exibir nenhuma forma de autenticação como carimbos, selos oficiais ou assinaturas, entre outros.
Mas custa perceber que o pessoal e o chefe de Escala de uma transportadora aérea nacional de um país africano não conheçam o que quer dizer “cimeira da União Africana” e, por conseguinte, desconheçam a velha prática de os países africanos que organizam grandes eventos de âmbito continental ou mundial concederem os vistos de entrada a partir do aeroporto de destino.
Por seu turno, quanto aos serviços consulares, também ninguém pode ignorar que existam regras superiormente definidas que eles não podem contornar. Mas aqueles que se mantiveram inflexíveis foram infelizes porque havia exceções oficialmente estabelecidas que chocavam com a sua postura.
O cônsul em Dakar, por exemplo, furtou-se diberadamente a essas exceções, em vez de as promover, e preferiu expor-se com ridículas declarações do tipo: “podem ir por vosso próprio risco e não contem comigo. Não posso fazer viajar
pessoas que depois ficam a escrever à toa sobre o país”.
-0- PANA IZ 08julho2011