Transportadora aérea cabo-verdiana admite não ter recursos para pagar todas as contas
Praia, Cabo Verde (PANA) - A administração da transportadora aérea cabo-verdiana, TACV-Cabo Verde Airlines, admitiu, quarta-feira, o atual nível de atividade da companhia "não gera receitas suficientes para honrar todos os compromissos", incluindo o pagamento dos salários referentes a julho, apurou a PANA de fonte segura.
A posição surge após um ofício do Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil (SNPAC), dirigido a várias entidades e à administração da TACV, ter sido divulgado publicamente, na qual são colocados em causa as condições de segurança em que companhia opera e os atrasos nos pagamentos dos salários, entre outros alertas.
Na referida, a SNPAC afirma que a “situação financeira grave que atravessa a TACV afeta não só do ponto de vista financeiro e da capacidade de cumprimento das obrigações contratuais da companhia, mas também afeta, de forma grave, a segurança operacional” da companhia aérea.
Face às denúncias do sindicato que representa os pilotos da transportadora aérea, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde(PAICV), maior partido da oposição no arquipélago, através do porta-voz e deputado, Hipólito Barreto, exige que o Governo tome medidas concretas para resolver os problemas na TACV elencados pelos pilotos.
No comunicado a companhia, renacionalizada em julho de 2021, justifica que "a empresa, à semelhança de muitas outras empresas de aviação, foi duramente fustigada pela pandemia da covid-19, tendo registado perdas colossais."
A administração da TACV refere que retomou as operações de forma cautelosa e tímida para garantir que seja segura e continua, inicialmente com voos apenas entre Praia e Lisboa (Portugal), desde o final de dezembro último, após uma paragem de toda a atividade que se verificava desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020.
Com apenas uma aeronave, os voos foram alargados, já este ano, das ilhas de São Vicente e do Sal para a capital portuguesa, Lisboa.
"A dimensão da retoma, com apenas uma aeronave e somente voos para Lisboa, não gera receitas suficientes para honrar todos os compromissos, nomeadamente, os da operação corrente, dívidas acumuladas do passado, reembolso dos passageiros e os salários. Todavia, há que começar. Todos os pagamentos, inclusive os referentes à operação, têm sido feitos com atrasos, mas esta realidade não é um exclusivo da TACV", reconhece a administração.
Acrescenta que o suporte financeiro do acionista Estado tem sido imprescindível para garantir a continuidade da empresa e realça que a companhia tem procurado cumprir com os regulamentos das autoridades aeronáuticas e a legislação laboral em vigor.
"São os trabalhadores que representam a empresa, e é com eles que vamos restabelecer a imagem e a confiança na companhia. A postura de todos os envolvidos ditará o sucesso da empresa", lê-se ainda no documento.
A nota refere também que a companhia, que já anunciou, para este ano, a intenção de retomar as ligações a Boston (Estados Unidos) e incluir uma segunda aeronave na frota, apresentou um Plano de Retoma e Estabilização 2022-2023 em dezembro passado, que foi aprovado pela assembleia-geral.
"O plano deverá ser financiado com recurso a várias fontes de financiamento. Decorrente das alterações do mercado, o plano foi atualizado em junho de 2022. Tendo sido apresentado a todos os representantes sindicais da empresa, inclusive o sindicato dos pilotos. A recuperação da confiança na companhia de bandeira só é possível com o envolvimento dos seus trabalhadores, com a colaboração e ajuda de todos os cabo-verdianos", salienta.
A companhia ficou temporariamente impedida de voar para a Europa em julho último, por não ter renovado um certificado, situação entretanto normalizada, e viu na mesma altura o Governo anunciar um acordo extrajudicial com os islandeses da Icelandair, que lideraram a TACV entre março de 2019 e julho de 2021, devido ao processo que envolveu a sua renacionalização.
"Uma das principais preocupações da empresa foi criar condições para uma operação segura, que passa obrigatoriamente pela formação e avaliação de todo o 'staff' da empresa. A aeronave Boeing 737-700, matrícula D4-CCI (alugado à angolana TAAG desde março), entrou na frota da TACV a 8 de maio de 2022. Antes da sua entrada na frota, a aeronave recebeu trabalhos de manutenção com recurso a componentes e peças que faziam parte do estoque existente e outras adquiridas para o efeito", esclarece ainda a administração.
Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que a companhia vai precisar de 30.000.000 euros do Estado até 2023.
-0- PANA CS/DD 11agosto2022