Cabo Verde reprivatiza transportadora aérea
Praia, Cabo Verde (PANA) - O Governo cabo-verdiano vai reaver os 51 por cento do capital social da Cabo Verde Airlines (CVA), detida pela islandesa Loftleidir Icelandic, desde março de 2019, depois da sua privatização, confirmou o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva.
Falando segunda-feira, na ilha do Sal, Ulisses Correia e Silva explicou que o seu Governo, através do ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, vai encetar “de imediato” negociações com o parceiro estratégico para a definição dos passos seguintes.
“Portanto, a opção do Governo já está tomada, agora é um processo negocial de saída que garanta a proteção dos interesses do país e dos interesses do parceiro”, avançou.
O chefe do Governo cabo-verdiano prognosticou a conclusão desse processo o “mais rapidamente possível”, durante este mês (junho).
Questionado se considera ter sido um erro o negócio realizado com a Loftleidir Icelandic, respondeu negativamente, sublinhando que as condições do mercado e da parceria, na altura da privatização da transportadora aérea, eram totalmente diferentes das atuais.
A esse propósito, lembrou o que está a acontecer a nível mundial com as companhias aéreas, devido à pandemia da covid-19.
"O Governo vai encetar um processo de reverter a privatização dos 51 por cento do capital que está na posse, hoje, da Loftleidir Icelandic, tendo em conta que nós não estamos a perspetivar que, num futuro próximo, haja injeção de capital por parte do parceiro estratégico de forma a garantir a perenização e a continuidade das operações da companhia", disse.
Ulisses Correia e Silva apontou também o "incumprimento de alguns acordos estabelecidos em março", entre o Governo e a administração da CVA, para permitir a retomada das operações da companhia, após 15 meses de suspensão da atividade devido à pandemia de covid-19.
"Estaremos sempre do lado da proteção do interesse nacional, é isso que iremos fazer, no sentido de criar todas as condições para que a retomada dos voos seja uma retoma sustentada, que não passe apenas por fazer mais ligações, mas por garantir que a companhia possa ser reestruturada, possa realizar as usas operações, possa satisfazer os seus compromissos com os credores e fornecedores", afirmou.
Ulisses Correia e Silva explicou ainda que, depois de reestruturar a companhia, avançará o processo para "procurar um novo parceiro estratégico".
Entretanto, garantiu, o Estado vai "assumir na totalidade a gestão" da CVA, para "salvaguardar o interesse nacional".
"Queremos assegurar a sustentabilidade da companhia. Não é só realizar voos, é fazer com que a companhia seja sustentável, possa perdurar e perenizar no tempo. Por isso, está sobre a mesa uma discussão que iremos fazer já na próxima semana, mas com a decisão, diria, já quase tomada", afirmou.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51 por cento da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhão de euros à Lofleidir Cabo Verde.
Esta última é uma empresa detida em 70 por cento pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30 por cento por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
A CVA, em que o Estado cabo-verdiano mantém uma posição de 39 por cento, concentrou então a atividade nos voos internacionais, a partir do 'hub' do Sal, deixando os voos domésticos.
A companhia deveria ter retomado, na sexta-feira passada, os voos internacionais, com uma ligação entre o Sal e Lisboa, que acabou por não se realizar, após várias horas de espera no aeroporto.
O facto deveu-se à falta de autorização da empresa ASA, que gere o espaço aéreo e os aeroportos, num alegado diferendo, não esclarecido ainda por qualquer uma das partes, sobre pagamentos em atraso por parte da empresa.
A administração da CVA admitiu, segunda-feira, ter sido surpreendida com a intenção anunciada pelo Governo de reverter a privatização da companhia, mas acredita numa "conclusão benéfica" para todos.
"A direção da Cabo Verde Airlines ficou surpreendida ao saber destes comentários do primeiro-ministro ontem à noite. É claro que esta é uma questão para os acionistas resolverem e estou confiante de que eles chegarão a uma conclusão benéfica para a companhia aérea, para os seus passageiros e para os funcionários", afirmou o diretor-executivo da CVA, Erlendur Svavarsson.
-0- PANA CS/IZ 22junho2012