Morreu cantora cabo-verdiana Titina Rodrigues
Praia, Cabo Verde (PANA) - Uma cantora cabo-verdiana, Titina Rodrigues, faleceu aos 75 anos de idade, na madrugada da sexta-feira, 06 de maio corrente, em Lisboa (Portugal), vítima de uma doença prolongada, apurou a PANA de fonte segura.
Numa primeira reação publicada nas redes sociais, o Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, sublinhou que Titina Rodrigues era detentora de uma “elegância e timbre inconfundíveis”, o que, frisou, contribuiu para a “riqueza” da música cabo-verdiana.
“A sua grande marca é a forma sublime como interpretava as mornas, coladeiras e marchinhas de carnaval de B.Léza (dos maiores compositores cabo-verdianos), com quem tinha uma relação fraternal, o que lhe rendeu o apelido carinhoso de “menininha de B.Léza”, referiu.
O percurso de Titina, conforme o chefe de Estado cabo-verdiano, é repleto de referências emblemáticas de São Vicente, a sua ilha natal, e de Cabo Verde.
Lembrou ainda a sua estreia a cantar para o grande público, aos 12 anos de idade, no cinema EdenPark, na cidade do Mindelo.
Para o ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, a cantora Titina Rodrigues “ajudou a construir os contornos da grandeza da morna.”
O governante, que falou à imprensa na ilha Brava, onde está de visita, disse ter recebido a notícia com “consternação e tristeza” por Titina Rodrigues ser uma das caras da morna de Cabo Verde.
Abraão Vicente, considerou que, sem dúvidas, quem acompanhou a carreira de cantora, inclusive no tempo em que a rádio tinha mais presença que a televisão, viu que "a cantora ajudou a construir os contornos da grandeza da morna.”
A morna, segundo ele, é antiga, mas, quem a consolidou e a tornou património da humanidade foi a geração dos anos 60 aos anos 90 e a diáspora, onde Titina Rodrigues se enquadrou, incorporando a saudade.
“Titina é muito mais que uma personagem da morna, da música e da cultura cabo-verdiana, é uma das caras da identidade crioula como diáspora”, sublinhou o ministro, para quem a sua perda é uma “notícia má e triste” para Cabo Verde.
Abraão Vicente regozijou-se no entanto por a cantora ter recebido “todas as homenagens e condecorações em vida”, mas, ainda assim, prosseguiu, "é um momento de luto nacional.”
A cantora natural de São Vicente e cujo verdadeiro nome era Albertina Alice dos Santos Rodrigues Oliveira de Almeida, tinha agora 75 anos, mas, desde cedo começou a cantar e considerava que Deus lhe deu uma oportunidade e uma felicidade de poder cantar e aprender com B. Léza, “um dos maiores compositores do género da morna no país.”
Titina Rodrigues fez estas declarações à Agencia Cabo-verdiana de Noticias (Inforpress) por ocasião da sua passagem pela cidade da Praia, em 2018, onde foi homenageada pela Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA), pelo contributo que deu à música cabo-verdiana.
A “menininha de B. Léza”, como era tratada carinhosamente pelo compositor, recorda que aos seis anos de idade frequentava a casa dele para aprender a ler, mas, aos poucos, ganhou paixão pela música, tendo feito a sua primeira atuação em público aos 12 anos de idade.
Em finais da década de 1970, gravou um EP com acompanhamento do grupo Voz de Cabo Verde e arranjos de Paulino Vieira.
E, cerca de uma década depois, saiu o EP “Titina Canta B.Léza”, em que a cantora interpretava unicamente músicas deste compositor, tendo este álbum sido reeditado em LP e depois mais duas vezes em CD.
A cantora participou ainda nos discos “Cabo Verde canta a CPLP”, “Músicas de Intervenção Cabo-verdiana e Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos”, projetos temáticos de Alberto Rui Machado que, em 2008, produziram o CD que Titina lançou com o título “Destino Cruel”.
Em 1991, a cantora fez uma participação na série televisiva portuguesa “Por Mares nunca dantes navegados”, do realizador Carlos Avilez para a Rádio Televisão Portuguesa (RTP).
Participou ainda no programa “A língua viva” (2001) da RTP, dirigido aos Paises Africanos de Lingua Portuguesa (PALOP), com o objetivo de ensinar a língua portuguesa.
No teatro, em 1996, participou em “O Último baile do Império”, uma produção da companhia portuguesa A Barraca, com a encenação de Maria do Céu Guerra, a parte de texto do Brasileiro Josué Montello.
-0- PANA CS/DD 07maio2022