Agência Panafricana de Notícias

Hospitais continuam a ser atacados no Sudão, alerta MSF

Port-Soudan, Sudão (PANA) - Hospitais continuam a ser atacados no Sudão, e nenhuma ajuda externa é acessível devido à intensidade da violência, alertou Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das raras organizações humanitárias internacionais ainda presentes na cidade de Port-Soudan. 

O alerta da MSF ocorreu 10 dias depois do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas ter apelado ao fim dos combates em El Fasher, a capital de Darfur-Norte (oeste do Sudão).

Na noite de sexta-feira para sábado últimos, tiros das Forças de Apoio Rápido (FSA, rebelião paramilitar) afetaram uma farmácia do Hospital Saudita de El Fasher, apoiado pela MSF, indicou a referida instituição num comunicado publicado no website.

“Uma farmacéutica morreu quando estava de serviço, e o edifício da mesma farmácia ficou danificado”, denunciou a MSF, frisando no entanto que a mesma continua aberta e a tratar de pacientes, mesmo funcionando parcialmente.

Segundo a mesma fonte, apetrechos adicionais são necessários com urgência a fim de continuar a cuidar dos feridos.

Receia-se um novo ataque visto que os combates prosseguem nos arredores, acrescentou a MSF anunciando que uma pessoa morreu sexta-feira última a apenas 200 metros do hospital e que uma terceira pereceu próximo de alojamentos do pessoal da MSF. 

Frisou que não se sabe ao certo o número real de pessoas mortas nessa sexta-feira.

“Em El Fasher, assistimos a um ciclo de ofensivas e de contra-ataques onde hospitais não estão poupados e onde os beligerantes (As Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido) falharam nas suas responsabilidades de protegerem os civis”, declarou Michel-Olivier Lacharité, responsável pelas operações de emergência da MSF.

Deu a conhecer que, desde a intensificação dos combates, há seis semanas, mais de 260 pessoas foram mortas e que mais de 1.630 ficaram feridas, incluindo mulheres e crianças.

"Não sabemos se os hospitais estão a ser deliberadamente alvejados. Mas a sua proteção é um imperativo que deve ser respeitado. Os civis caem numa armadilha e não poder partir. A sua vida deve ser protegida e devem poder receber um tratamento quando dele necessita", martelou 

A seu ver, é pela segunda vez que o Hospital Saudita é afetado na cidade nas últimas seis semanas.

Há duas semanas, o Ministério da Saúde foi obrigado a fechar um hospital chamado de Sud após o mesmo ter sido atacado pela quinta vez.

Antes deste incidente, o hospital pediátrico foi também obrigado a fechar as suas portas devido a danos causados por um raide aéreo lançado pelas SAF.

Por causa disto, o Hospital Saudita, que antes foi uma maternidade especializada, tornou-se num único estabelecimento sanitário da cidade a dispor de uma capacidade cirúrgica para cuidar de feridos, segundo Lacharité.

Disse lamentar que presentemente a sua disponibilidade para continuar aberto esteja ameaçada.

“Precisamente com urgência dar mais material e pessoal a fim de podermos responder a esta crise. Mas os combates impedem-nos de acessar a estas infraestruturas”, indignou-se.

Mesmo que esteja proteger os civis e hospitais, a MSF pede instantemente às partes beligerantes para permitirem um acesso seguro a fim de que “possamos continuar a dar uma assistência vital aos habitantes de El Fasher e do campo de Zamzam”, onde a crise da desnutrição continua catastrófica e donde inúmeras pessoas fugiram desde a intensificação dos combates, há seis semanas.

Sudão está mergulhado numa guerra civil desde 16 de abril de 2023, devido à luta pelo poder entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF, sigla em inglês), dirigidas pelo general Abdel Fatah al-Burhan e as Forças de Apoio Rápido (FSA, sigla em inglês), a mando do general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti.

-0- PANA MA/NFB/JSG/DD 24junho2024