Banco central alerta para vulnerabilidades do sistema financeiro cabo-verdiano
Praia, Cabo Verde (PANA) – O sistema financeiro de Cabo Verde, em particular o bancário, continua ainda a padecer de um conjunto de vulnerabilidades susceptíveis de condicionar a robustez das instituições e de induzir a materialização de riscos para a estabilidade financeira, alertou o banco central do arquipélago
No seu Relatório de Estabilidade Financeira de 2018, que acaba de ser divulgada, o Banco de Cabo Verde (BCV) precisa que, em termos globais e face a 2017, houve uma ligeira melhoria nos fatores de estabilidade relacionada com o ambiente macroeconómico e financeiro, com a situação financeira de empresas particulares e com o sistema de pagamentos.
O relatório indica que, em relação aos resultados do ano transato, observou-se, em 2018, um ligeiro agravamento da vulnerabilidade das instituições face à materialização dos riscos.
O documento revela também que a manutenção dos níveis de risco relacionados com a gestão das instituições, a estrutura do sistema bancário, o mercado de valores mobiliários e o contágio entre as instituições financeiras registaram também uma ligeira melhoria.
Segundo o relatório, verificou-se igualmente um aumento da exposição do sistema financeiro nacional a riscos relacionados com a solvabilidade e o desempenho das instituições.
Entre os riscos para a estabilidade financeira, o BCV aponta o nível elevado de crédito vencido, a concentração do crédito num número limitado de contrapartes, o considerável nível de stock de bens recebidos em dação e a concentração do funding face aos cinco maiores depositantes.
De acordo com o BCV, os resultados dos “stress tests” confirmam a elevada vulnerabilidade do sistema bancário nacional à materialização do risco de crédito, sobretudo, no que se refere à grande concentração da carteira, num contexto de moderada exposição face ao risco de liquidez e de relativamente baixa exposição do balanço dos bancos aos riscos de taxa de juro e de taxa de câmbio.
O Relatório de Estabilidade Financeira de 2018 dá conta, igualmente, que os bancos que operam em Cabo Verde apresentaram, globalmente, lucros superiores a 644 milhões de escudos (5,8 milhões de euros), em 2018, uma quebra de 39,2 por cento face ao ano anterior e com 12,2 por cento do crédito total concedido no país em situação de vencido.
Conforme o BCV, que tem a responsabilidade de supervisão de 11 bancos (com autorização de funcionamento genérica e restrita), o volume total de depósitos de clientes aumentou 4,3 por cento face ao ano anterior, chegando aos 208,4 mil milhões de escudos (1.897 milhões de euros).
No entanto, na demonstração de resultados, os bancos que operam em Cabo Verde viram a margem financeira subir, globalmente, 16,5 por cento, o ano passado, para 7.364 milhões de escudos (67 milhões de euros), e os lucros (após impostos) caírem para 644 milhões de escudos (5,8 milhões de euros), também face a 2017.
Esta queda é justificada pelo banco central com a reposição, por decisão judicial imposta ao "maior banco nacional" - BCA, de uma contribuição no montante de 1,1 mil milhões de escudos (10 milhões de euros) "para o fundo privativo de segurança social daquele banco".
O relatório aponta ainda uma melhoria nos indicadores de qualidade de crédito em 2018, que “resultou do efeito conjugado de uma redução mais expressiva dos 'stocks' de crédito com imparidade e em incumprimento”, em 1,4 mil milhões de escudos (12,7 milhões de euros) e 600 milhões de escudos (5,4 milhões de euros), respetivamente.
-0- PANA CS/IZ 04ago2019